sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

11º Encontro
20/11
TP2
Iniciamos o encontro com a leitura dos textos produzidos pelos professores,os textos já haviam sido entregues a mim e a socialização se deu nesta data.Os textos já foram pstados no blog.
A temática do TP2 estava sendo muito esperada pelos cursistas, uma vez que, há muitas interrogações sobre o ensino da gramática.
Como sabemos a gramática normativa reinou e continua reinando nas aulas de Língua Portuguesa e o que é pior continua amedrontando e sendo motivos de reprovação para muitos alunos.
Apesar dos professores,alguns,já trabalharem a gramática,ou seja, a função social da gramática, contextualizando e fazendo e provocando reflexões,há por parte destes muita insegurança,afinal de contas os cursos de especialização ainda deixam muito a desejar nesse sentido.
A Linguística tem conseguido, aos poucos, adentrar no ensino da língua e é através desse estudo que nós professores de Língua Portuguesa nos sustentamos e mudamos a concepção sobre gramática.
Existem ainda, professores que radicalizam e cometem um grande equívoco quando entendem que ensinar gramática é coisa ultrapassada.
Pois bem aqui vamos ao estudo do TP2 e esperamos encontrar respostas para nossas angústias.
Os objetivos da unidade 5 são bem interessantes e já cumprem de cara a missão de nos revelar como devemos trabalhar a gramática em sala de aula.

1- Caracterizar a gramática interna e o ensino produtivo;
2- Caracterizar a gramática descritiva e o ensino reflexivo;
3- Caracterizar a gramática normativa e o ensino prescritivo

A primeira leitura para posterior discussão foi a do texto de referência, O ensino da Gramática no ensino fundamental e médio: a abordagem gramatical mais adequada para se enfrentarem as questões decorrentes do fato de que há uma interface texto-gramática.

Para descontrair um pouco, embora não fugindo das reflexões fizemos a leitura do texto O assassino era o escriba, já mencionado nos encontros de formação com Aya.
O ASSASSINO ERA O ESCRIBA
Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito
inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida,
regular como um paradigma da 1ª conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito
assindético de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os E.U.A
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia matei-o com um objeto direto na cabeça.

(Paulo Leminski.Caprichos e relaxos.São Paulo: Brasiliense,1983.p.144)

Por se tratar de um poema metalinguístico, que retrata bem o tipo de aula desinteressante de muitas escolas atuais. E por ser um texto irônico ao extremo, bem como pela crítica a alienação das aulas de análise sintática, foi interessante apresentá-lo aos cursistas, uma vez que estávamos tratando justamente da não contextualização do ensino da gramática.
Para que o estudo da sintaxe não se torne inócuo, é essencial que o professor faça cada explicação ter sentido aplicado ao mundo. Assim, teremos um ensino de português mais atraente... E talvez assim, muitos alunos deixem de querer esganar o professor com o primeiro objeto direto que tiverem à mão.essa foi uma colocação da professora Micheline.

Continuamos o estudo com a leitura do texto Pluft,peça teatral infantil de Maria Clara Machado,pagina 22 e 23 do TP2.
Logo em seguida, em grupo os professores responderam a atividade 5 e socializando posteriormente as respostas.

Outro texto lido e discutido foi Osarta de Lygia Bojunga e também realizamos as atividades das páginas 28 e 29.

Lemos também o resumindo e estendemos as falas sobre as três concepções de gramática: a interna, a descritiva e a normativa e assim falamos sobre dois livros de Marcos Bagno que são excelentes para que passemos a entender e aceitar o quanto estávamos equivocados ao ensinar regras, regras e mais regras que no final das contas não ajudam muito nossos alunos a serem produtores de textos orais e escritos e o mais lamentável, ouvir deles que Português é difícil e lermos ao final de bilhetes a seguinte frase: desculpe os erros...
Os livros mencionados foram A língua de Eulália e Preconceito Línguístico,ambos trabalhados nos cursos de pós-graduação.

E como é de costume um trabalhinho em grupo foi proposto:
• Escolher um dos textos do TP2 para a partir dele fazer um planejamento de como trabalhar a gramática em classe

A oficina foi um pouco mais curta, pois havia outro compromisso na Secretaria de Educação, já agendado.

No entanto ficou determinado que nas aulas atividades,na escola, os professores se reuniriam para:

Ler o texto “Na gramática da escola cidadã todo verbo é transitivo”da escritora e formadora do Gestar II, Aya Ribeiro e elencarem o que mais acharam relevante para socialização no encontro do dia 19/12.
Quanto ao avançando na prática, não houve depoimentos, uma vez que todos os professores estão fazendo revisão para as avaliações do IV bimestre e também porque já ficou combinado que em 2010 todos os AAAs ,assim como todo material do Gestar II servirá de base para o planejamento,mesmo para os professores que não participram da formação, havendo assim uma espécie de multiplicadores em cada escola. Achei a ideia fantástica.
Então, até a próxima!

O TP 1 sem dúvioda despertou a vontade de produzir textos.O trabalho com a intertextualidade foi muito bom e percebemos o potencial que o professor tem para escrever.

Os textos a seguir são resultado das leituras e reflexões sobre intertextualidade,unidade 4 do TP 1.

Eis os textos prometidos. Vale à pena conferir, ficaram excelentes!

Deu a louca no mundo encantado !

Era uma vez num reino encantado muito distante, uma linda princesa chamada Cinderela. Cinderela, ou Cindy para os íntimos, tinha uma vida bem estressadinha, pois apesar de ser uma princesa, era maltratada pela madrasta e suas duas filhas, ambas bem folgadinhas.
Certa vez a garota foi convidada pelas amigas Bela Adormecida, Chapeuzinho Vermelho, Branca de neve e Maria,para ir a uma excursão lá para as bandas do reino da Rapunzel,onde estava o maior agito por causa do concurso “ Miss Fashion Hair.”Pois muito bem,as filhas da malvada madrasta de Cindy,sentindo muita inveja dela,detonaram o sapatinho de grife de Cindy que a princesa havia ganhado do namorado,o gatíssimo Romeu,ex-namorado da princesa Bela.
No entanto, a garota não se deu por vencida e recorreu a ajuda da Varinha de Condão da Madrinha de Pinóquio. Graças ao poder da fada, que improvisou um visual radical para Cinderela, toda a galera embarcou na carruagem rosa-chiclete para uma aventura radical.
Chegando lá, o concurso já havia começado e a torcida estava dividida: ora torcia pelas tranças de Rapunzel, ora se empolgava por Cachinhos Dourados,que aliás,tinha aderido à onda da chapinha e, por isso,seus cabelos estavam longos e lisos.
Desfile vai, sorriso vem, e eis que aparecem na passarela no maior etilo, a mãe da princesa Bela e a avó da Chapeuzinho...
Constrangidas e surpresas, Chapeuzinho e bela tentam fugir da imprensa que disputa aos tapas um depoimento das garotas.Muito rapidamente, as meninas descolam a vassoura de uma bruxa estilista, estacionada a poucos metros do evento e livrando-se do engarrafamento do bosque, pousam no telhado de uma casa coberta de chocolate;dessas de quebra o regime de qualquer princesa sarada.
Enquanto isso, na casa da tão perseguida Cinderela, as filhas da madrasta da princesa não conseguiam conterem-se de tanta inveja e ciúmes, até porque todas eram apaixonadas por João, que também estava no concurso.
A madrasta por sua vez,esbravejava terríveis juras de vinganças a sua pobre enteada que inocentemente divertia-se a valer.
Mas, inocentes mesmo, em relação a roubada que haviam entrado, estavam Bela e Chapeuzinho, que tentavam invadir a deliciosa casinha por uma das janelas laterais.Força aqui,força acolá e, de repente um grito ecoa por toda a floresta:
_Quem está aí?!!
Isso mesmo! A terrível bruxa, nesse exato momento, entra nesta louca aventura para deixar a história bem mais carregada de adrenalina...
E por falar em adrenalina, vamos ao resultado do concurso “ Miss Fashion Hair”: Vovó-Chapéu campeã!
É claro que nem é preciso comentar as fofocas que rolaram...até porque o que interessa no momento é saber como foi que Chapeuzinho e Bela fizeram para safarem-se da roubada em que se meteram!
Bem, Chapeuzinho por ser mais descolada, aproveitou-se da miopia da bruxa, que estava sem as suas lentes de contato e, com a lanterna do celular de Bela,induziu a malvada até uma das suas gaiolas,que no mento estava sem nenhum prisioneiro.
Mas, e o resto da turma? Onde estavam Cinderela, Branca, Maria e João? Espertinhos como eles só, pegaram uma carona no conversível que a avó de Chapeuzinho ganhou como prêmio no Concurso e, foram dar um giro pelo mundo da imaginação.
Rodaram, divertiram-se bastante e reencontraram velhos amigos, adormecidos nos livros das histórias infantis...
Atualmente, através dos sonhos e da felicidade que cada um despertou nas crianças, a galerinha conseguiu uma participação especial no filme que os Sete Anões estão estrelando, intitulado, “SALVEM A FLORESTA!”, em cartaz nos principais cinemas de todo o reino encantado.
Cinderela, de tão encantada que está com sua forma, inscreveu-se para participar do próximo Big Brother, sem falar que está morando sozinha num apartamento maneiro que conseguiu financiar lá na Terra do Nunca. Ao redor desse prédio, há lindas macieiras cuidadosamente protegidas pelo Sr. Lobo, que por causa de uma ordem judicial presta serviços comunitários da região.
Enfim,como bem se vê, seja de uma forma ou de outra, contos de fadas que se prezem, têm que ter um final feliz, onde o bem vence o mal e onde a história sempre termina assim:
E todos viveram felizes para sempre!!!


Grupo:
Rossana
Cristiane
Carmelinda


Cinderela na Cidade Maravilhosa

Certo dia na cidade maravilhosa o Fernandinho Jr.,filho de traficante Fernando Beira Mar,deu um baile em comemoração ao seu aniversário e convidou todas as pessoas de sua comunidade, especialmente seu Antônio,que tinha uma belíssima filha, a doce e encantada Cinderela.
Seu Antônio era uma pessoa pobre, sua única riqueza era a filha que criou com muita dificuldade. Fernandinho Júnior, sabedor das dificuldades de seu Antônio e interessado na filha dele, ofereceu-lhe dinheiro. O pobre homem, embora assustado com as conseqüências da oferta, sem pensar duas vezes resolveu aceitar.
Ao chegar em casa, contou tudo para a filha que,de início não concordou, afinal não tinha nenhum interesse em Fernandinho.O pai ficou muito triste e explicou que precisava de dinheiro porque estava passando por necessidades.Cinderela pensou melhor e pediu ao pai para não se preocupar e que daria um jeito de ficar com Fernandinho Júnior.
No dia da festa, Cinderela foi acompanhada de seu pai.Ao entrar no salão encontrou o dito cujo e os dois foram logo dançar. Pouco tempo depois ele precisou ir ao banheiro, então Cinderela ficou esperando ele voltar.
Mas eis que chega um rapaz lindo, de olhos verdes e pele morena. Ele olha para Cinderela e a convida para dançar. Cinderela encantada com a beleza do moço, aceita.
Fernandinho voltando do banheiro vê Cinderela com outro e começou a bater no rapaz, dando início a uma grande confusão. Cinderela procurou seu pai e saiu correndo desesperada, perdendo na fuga, seu tênis, dando por falta dele somente depois que chegou em casa.
Depois da confusão, ao descer as escadas do clube, o belo rapaz achou o tênis e o levou para casa. No dia seguinte, saiu à procura da dona do tênis e depois de muita investigação descobriu que o tênis era da moça que dançou com ele no baile e resolveu devolvê-lo pessoalmente.
Chegando lá, Cinderela atendeu e recebeu de volta o seu calçado.Ao sair,o rapaz desculpou-se pelo incidente da noite anterior.Cinderela respondeu-lhe:
_A culpa não foi sua, quem deve pedir desculpas sou eu.
_ Então estamos quites.
O rapaz despediu-se com dois beijinhos e foi embora.
Fernandinho Júnior ao saber que sua prometida estava de conversa com o seu rival, resolveu acertar as contas com seu Antonio, afinal havia dado dinheiro para ficar com a filha dele. Ao chegar à casa do velho, com seus capangas, saudou-o com dois disparos de 38 no meio da cara.
Com a morte do pai, Cinderela ficou apavorada e resolveu morar com a avó em Pernambuco.
O belo rapaz com o qual Cinderela havia dançado era na realidade um agente especial, que há muito tempo vinha investigando Fernandinho Júnior.Depois da morte de seu Antonio, as buscas foram intensificadas e numa ação eficiente toda a quadrilha foi descoberta e num forte tiroteio todos foram mortos.
O agente procurou Cinderela, com um tempo casaram-se e viveram felizes para sempre.

Grupo:
Erivânia
Micheline,
Wedna Cristina
Magneide


O amor não é mais cego...

Os tempos mudaram, e como mudaram! As pessoas fazem esforços para estar sempre na moda: é silicone, botox, academias, escova definitiva, revistas de moda, bronzeamento artificial... e esta última era a parte que mais preocupava Branca de Neve, que não bastasse a má fama que ganhou pelos tempos em que esteve morando com os Sete Anões, agora não poderia ficar desfilando pelo litoral brasileiro com aquela pele branca,mas tão branca,aponto de ser comparada à neve.
Já imaginou?! Com tanta concorrência nas praias, o príncipe em meio a tantas morenas bronzeadas?Nem pensar! Era preciso fazer mais este sacrifício! Então lá vai Branca de Neve à Clínica do Dr, Holliwood para mais algumas sessões de bronzeamento.
Logo em seguida chegou para fazer companhia uma velha amiga - Rapunzel.
_Que faz aqui Branca de Neve?^
_Vim fazer algumas sessões de bronzeamento artificial. E você amiga?
_Vim radicalizar o meu cabelo, além de está completamente fora de moda,namorado meu agora entra pela porta da frente e tem livre acesso ao meu quarto.Se as coisas não mudassem lá em casa, daqui a alguns meses eu teria de fazer tratamento para calvície.
_Nossa!Quer dizer que é verdade o babado que circula pelo reino Encantado de que você é a maior piriguete da atualidade?
_Não é pra tanto!São as fofoqueiras das suas irmãs encalhadas que querem queimar meu filme!
Para Rapunzel, as coisas também estavam mudadas,já se foram os tempos em que os casais de namorados eram românticos.A Rapunzel já não joga mais sua tranças para seu amado,porque mesmo se assim fosse, ela já não suportaria o peso de tantos numa só noite.
Onde foi parar o romantismo do tipo que ainda manda flores? Os valores estão se dissipando de uma forma que tornou-se natural os tapinhas na cara e os xingamentos de que até é bonitinha, mas é abestalhada.
Para a surpresa geral, nem os ogros conseguiram ficar imunes aos apelos da mídia e da vida moderna, e eis que no meio do papo acalorado entre Branca de Neve e Rapunzel, chega à clínica, a princesa Fiona.
_É meninas, depois que todo o aparato tecnológico percorreu o vale congelante e o deserto escaldante e mais o resto do percurso para chegar a Tão Tão Distante, comecei a me sentir uma ogra horrenda!_desabafou Fiona.
_ Bem vida ao clube!-disse Branca de Neve-depois que o príncipe e eu nos mudamos do bosque, também comecei a me sentir desta forma, agora compreendo porque minha madrasta tentou me matar quando eu era adolescente.
_ Os Shrek diz sempre que me ama assim gordinha, mas volta e meia o pego paquerando as moças magras que freqüentam o castelo. E depois dos trigêmeos então, a coisa ficou ainda pior!
_ E o que pretende fazer aqui? – perguntou Rapunzel.
_Vou fazer uma lipo e entrar para a academia, tenho que me cuidar não é meninas?!
_ Com certeza!-afirmaram em coro.
O Doutor chega e começa o atendimento. Aliás, nos últimos meses, a agenda do Dr. Holliwood anda lotada de personagens de contos de fadas que disputam aos tapas o atendimento preferencial entre as madames, as modelos e as pop stars.

Grupo:
Anunciada
Elioneide
Fernanda
Kátia Jumária



Brasil, mostra tua cara!

Ouviram das ruas gritos plácidos
Que buscavam liberdade
Digna de uma pátria amada
Amada pelos seus trabalhadores
Pelos seus jovens, suas crianças, seus idosos
Que no penhor de seus dias
Tentam construir o direito da igualdade,
Do trabalho, da moradia, da dignidade humana.

Entretanto, como descobrir os pinóquios
que vivem a dar respostas
para o caos que assola a vida do povo brasileiro?
Se dentre outras mil és tu Brasil, a pátria amada,
Onde estão teus filhos?
Dormindo nas calçadas das grandes cidades?
Abreviando o sono para enfrentar as fils de postos de saúde?

Alguns, poucos,vivem deitados eternamente
Em berço esplêndido
Estes, enxergam em seu horizonte
Apenas os lindos campos e os bosques
Infelizmente, o povo, heróico brasileiro
Mora um pouco mais distante

Pátria Amada, despertai!
Brada e recruta teu povo
Que não foge à luta
Nem teme a própria morte
Em busca do penhor da igualdade.

Ó Pátria Amada, Salve!...Salve!

Grupo:
Anunciada
Elioneide
Fernanda
Kátia Jumária


quarta-feira, 11 de novembro de 2009

10º Encontro


07/11

Concluindo o TP 1.

Após um bom tempo retornamos com os encontros do Programa, esse intervalo tão grande não ocorreu propositalmente. Acontece que o mês de outubro tem muitos feriados e muitas comemorações nas escolas, como por exemplo: semana da criança, Dia do Professor,funcionário público, enfim,foi um mês difícil de encaixai uma data para realização das oficinas do GESTAR e ainda tive que disponibilizar horários para atendimento individual por conta dos projetos e portfólios dos cursistas.

Mas apesar de tão longo intervalo, não encontrei frieza nos professores e foi interessante o clima de saudosismo que se estabeleceu nesse encontro, parece que o fato de ter acontecido o Seminário de Avaliação dos formadores mexeu com os professores, é como se estivéssemos em clima de despedida e não houve como evitar uma avaliação do GESTAR por meio de falas, pois os professores estavam realmente com vontade de comentar avaliando o quanto o GESTAR contribuiu para a melhoria da pratica pedagógica e ainda foi unânime a angustia quanto ao tempo escasso para realização das atividades, bem como das oficinas- quatro horas e meia não são suficientes para trabalhar duas sessões de um TP- disseram em uníssono.

Sou da mesma opinião dos cursistas, de fato o tempo é pouco para tanta informação, mas tentei tranqüilizá-los afirmando e prometendo que os vínculos continuarão e mesmo com o fim do curso, faremos encontros temáticos periódicos e ainda sugeri que eles realizassem oficinas com os colegas na escola onde trabalham, que assumissem o papel de formador e levasse como filosofia de vida a frase de Cora Coralina:
Feliz aquele que transfere o que sabe e
aprende o que ensina!”

Ficou acordado ainda que o planejamento didático anual de 2010 seja feito em conjunto e com base nos TPs e AAAs.Os professores de Língua Portuguesa que não participaram do formação serão convidados para discussão,seleção de textos e atividades e elaboração do plano anual das séries finais do Ensino Fundamental.Fiquei feliz com a idéia.

Bem mais deixando de lado o clima de despedida, até porque isso ainda está um pouco longe de acontecer, uma vez que ainda temos pelo menos mais cinco encontros pela frente e passemos para o que interessa: O estudo da sessão I da Unidade 2, cujos objetivos são:


1- caracterizar a norma culta;
2- caracterizar a linguagem literária;
3- caracterizar a língua oral e a língua escrita.

O texto que iniciou os estudos foi Babel é aqui: todas as línguas do português, em seguida fizemos comentários e passamos para a exibição dos slides sobre norma culta.

Outro texto interessante e também engraçado foi lido:Carta de Alfredão a Bertulino.Com essa leitura fizemos muitas reflexões sobre dialetos e idioletos, fazendo um paralelo com a fala dos nossos alunos.

Eis a proposta:

Leia a carta do Alfredão e discuta o problema de comunicação que houve porque os interlocutores não partilhavam o mesmo código.

Eis o texto:

Alfredão é um rapaz simpático, sociável e adora viajar. Numa de suas viagens ao interior, um inesperado acidente com o carro, obriga-o a ficar no mato. Por sorte, um fazendeiro socorreu-o, dando-lhe abrigo. Com o auxílio do fazendeiro, Alfredão pôde retornar à sua cidade. Já em casa, o moço felicíssimo pela ajuda que recebera, resolveu agradecer ao fazendeiro, através da seguinte carta:

“Paz e amor, bicho...você me amarrou na sua cara legal, muito barra- limpa. Achei jóia sua, quando sacou que eu estava na pior, com minha máquina transando no meio do mato, dentro daquele breu. O envenenamento do meu carango sempre me deixa baratinado e você ligou bacana, levando-me para o seu habitat. No dia seguinte, com colher de chá que você me deu com o seu trator, consegui emplacar no asfalto e batalhar firme uma carona até conquistar a metrópole.
Como não pudemos transar melhor, espero você para vir moitar uns dias comigo em minha lona legal, onde poderemos curtir fino papo com a turma ou transar com as doidonas das motocas, com suas calças apertadas e blusas transparentes.
Você poderá ir comigo para uma discoteca ou um inferninho e tenho certeza, adorará a onda do travoltismo.
Curtiremos um som jóia ou sacaremos umas minas no asfalto, para um programa bem legal. Fique na minha, você vai gamar.
Do chapa, Alfredão

Resposta do Bertolino:

Senhor Alfredão
Não entendi bulhufas de sua carta, é muita confusa e estou muito aborrecido por você começar me chamando de bicho, quando fui seu amigo sem o conhecer. Além do mais, devo dizer-lhe que sou macho pra burro. Se quiser eexperimentar, volte aqui, seu cachorrão. Não amarrei você em coisa alguma, o que fiz foi tratá-lo como gente civilizada. Se você achou alguma jóia aqui, deveria ter entregue à dona da casa. O que você praticou é caso de roubo. Outra coisa errada a sua, não tirei você de nenhum breu. Isso aqui não existe.
Acho que você está meio tantã. Também não lhe dei nenhuma colher de chá. Se por acaso você levou alguma coisa, que e pelo que eu senti, é costume em você, pode ficar com ela de recordação. Gostaria de saber quem foi o cretino que jogou veneno no seu carro, pois se foi algum empregado meu, vou mandá-lo embora. Aqui tem curtume e não vou sacrificar minhas aves para dar o papo você. Quanto a ir para o inferno com você, pode ir sozinho.
Sou muito religioso, inferno é feito para gente igual a você. O tal de negócios de minas e jóias não serve para mim. Nunca tive gosto nem tempo para bancar o garimpeiro. Também não sou marinheiro e não entendo de ondas.
Olha, moço, eu aqui sou muito conhecido e respeitado por todos. Pelo Juiz, pelo Padre, por políticos e pelo povo. Nunca alguém me chamou de bicho ou por outro nome de animais. Vê se me respeita, moço.

Bertolino

Eis o resultado da leitura:

Risooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooos....

Após esse momento de descontração e reflexão um pouco mais leve fizemos a leitura e discussão dos seguintes tópicos:

A norma culta não é melhor do que os outros dialetos: estes, tanto quanto a norma culta, cumprem perfeitamente sua função no ambiente em que são usados e com as pessoas desse ambiente.
2 – Aprender a norma culta é ter mais uma opção de uso da língua, importante em muitos momentos e ambientes. Quanto mais opções o sujeito tiver de uso da língua, mais ele vai poder atuar na sua comunidade e se desenvolver como cidadão.
3 – Ninguém deve ser discriminado por apresentar um comportamento lingüístico diferente do outro.

O próximo assunto abordado foi:O texto como centro das experiências no ensino da língua, cujos objetivos eram:
1 – conceituar texto ;
2 – indicar as razões do estudo prioritário de textos no ensino/aprendizagem de línguas;
3 – reconhecer os diferentes pactos de leitura dos textos.

Assim fizemos a leitura das páginas 99 a 102 e 116 a 120, dando ênfase ao quadro resumindo.

Chegou a hora de trabalhar com a INTERTEXTUALIDADE.

Objetivos:
Objetivos:
1 – identificar os traços da intertextualidade em nossa interação cotidiana;
2 – identificar os vários tipos de intertextualidade;
3 – identificar os pontos de vista nas diversas interações humanas..

O objetivo 2 foi o mais trabalhado, uma vez que com esse estudo seria melhor trabalhada as produções dos alunos.

Apresentei então os slides com os quadrinhos da Turma da Mônica que faziam alusão a contos de fadas e em seguida li para a turma o livro de Jessier Quirino, que foi um dos convidados desse encontro.

O livro tem um título que brinca, ou faz uma alusão a outro livro bem conhecido nosso.Ei-lo:
Chapéu mau e Lobinho Vermelho.

Na verdade Jessier Quirino faz uso de um tipo de intertextualidade ao qual se denomina pastiche, uma vez que nessa obra ele aproveita o clima e os recursos do conto infantil Chapeuzinho Vermelho para criar outro conto, porém podemos ainda dizer que houve também uma paródia, pois a narrativa foi subvertida e foram trabalhados outros valores diferentes e com temática atual-meio ambiente.
È um livro interessante, sem dúvida!

O próximo texto lido e dessa vez uma proposta de produção:


Após a leitura sugeri que em grupo os professores fizessem uma produção baseada em uma história da literatura infantil, o gênero ficaria a critério.

As produções serão postadas em breve.

Encerramos fazendo a leitura dos slides sobre intertextualidade, muito rapidamente , vale salientar.

E como é de costume outro convidado ilustre apareceu...

Era a hora de entrar em cena o baiano Xangai e a composição escolhida foi Marido preguiçoso.

Marido preguiçoso
Xangai
Marido se alevanta e vai armá um mundé
Prá pegá uma paca gorda prá nóis fazê um sarapaté
Aroeira é pau pesado num é minha véia
Cai e machuca meu pé e ai d´eu sodade
Marido se alevanta e vai na casa da sua avó buscá
A ispingarda dela procê caçá um mocó
E que no lajedo tem cobra braba num é minha véia
Me morde e fica pió e ai deu sodade
Entonce marido se alevanta e caçá uma siriema
Nóis come a carne dela e faiz uma bassora das pena
Ai quem dera tá agora num é minha véia
Nos braço de uma roxa morena e ai d´eu sodade
Sujeito te alevanta e vai na venda do venderão
Comprá uma carne gorda prá nois fazê um pirão
É que eu num tenho mais dinheiro num é minha véia
Fiado num compro não e ai d´eu sodade
Entonce marido se alevanta e vai na venda do venderim
Comprá deiz metro de chita prá fazê rôpa pros nossos fiim
Ai dentro tem um colchão véio num é minha véia
Desmancha e faiz umas carça prá mim e ai d´eu sodade
Disgramado se alevanta e deixa de ser preguiçoso
O homi que num trabáia num pode cumê gostoso
É que trabáia é muito bom num é minha véia
Mas é um pouco arriscoso e ai d´eu sodade
Entonce marido se alevanta e vem tomá um mingau
Que é prá criá sustança prá nóis fazê um calamengal
Brincadêra de manhã cedo num é minha véia
Arrisca quebrá o pau e ai d´eu sodade
Marido seu disgraçado tu ai de morrê
Cachorro ai de ti lati e urubu ai de ti cumê
Se eu subesse disso tudo num minha véia
Eu num casava cum ocê e ai deu sodade

A intenção foi voltar ao estudo da variações linguisticas, objetivando valorizar o “ dizido” nordestino.
9º Encontro
03/10
Iniciando os estudos do TP 1

Iniciamos o encontro com a exibição do vídeo Língua: Vidas em Português e posteriormente fizemos uma longa reflexão a cerca das variedades lingüísticas e os fatores que influenciam de maneira determinante nos “falares” dos usuários da língua.

Ainda é grande a insegurança de como trabalhar com as variedades linguísticas sem que se conceba o falar diferente como um desvio da língua e essa foi a questão na qual demoramos muito refletindo.

Finalizadas as discussões apresentei os objetivos da sessão I do TP e fizemos a leitura do texto de referência e em seguida do resumindo da página 27. Essa última leitura serviu para evidenciar a diferença entre dialeto e idioleto.

!. Relacionar língua e cultura
2.Identificar os principais dialetos do Português
3.Identificar os principais registros do Português.

Para aprofundarmos o assunto exibi os slides que demonstravam a diferença entre textos,de uma mesma temática,escritos por pessoas de níveis de estudo distintos.Foi quebrado aí a “seriedade” do encontro, pois até então as discussões deixaram os ânimos esquentados e a frase “Rapadura é doce MS não é mole não” serviu para fazermos comparações com a nossa missão de “ensinar Língua Portuguesa”, uma vez que, mesmo gostando de trabalhar com ela, percebemos que não é nada fácil mudar concepções e desfazer verdades engessadas.

Esse encontro não foi propriamente uma oficina, pois não teve proposta de produção, o TP exigia que discutíssemos a relação língua e cultura de forma aprofundada.

Encerrei as atividades com algumas considerações sobre os projetos em andamento, solicitando que os mesmos fossem concluídos até dois dias antes do Seminário de Avaliação a realizar-se em Gravatá.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

8º encontro

19 de setembro

Continuando os estudos do TP 5

Iniciamos o encontro com a exibição de um vídeo “ Mais um tijolo no muro” tradução da música Another Brick in the wall, uma adaptação do filme Pink Floyd- The wall.

O vídeo nos levava a refletir sobre o que faz um professor marcar a vida dos alunos, fizemos uma viagem por várias décadas para entendermos a evolução da sociedade e o quanto a figura do educador é importante no cenário atual.

Após a reflexão iniciamos o estudo da Coerência e da Coesão textual, fazendo uma analogia ao vídeo exibido e concluindo com a leitura do texto da p. 69.

Dando continuidade iniciamos os estudos com a apresentação de slides: A coerência na inter-relação entre textos verbais e não verbais e assim exploramos a unidade 18, especialmente as páginas71 a 73, e 91.

O trabalho em sala de aula sobre a coerência e a coesão textual ainda é meio tímido, isso porque os professores sentem uma necessidade de aprofundar o conhecimento e de elencar estratégias que facilitem o entendimento por parte dos alunos nas produções textuais e a partir dessa constatação resolvi explorar o AAA5,uma vez que há ótimas sugestões de atividades que certamente facilitarão a prática em sala de aula.( tenho percebido pouca exploração dos AAAs e comentei com os cursistas, embora já prevendo que a justificativa seria o tempo escasso).

Como proposta de trabalho, que, aliás, é uma ótima estratégia para os alunos perceberem o que é coerência e coesão, dividi a turma em cinco grupos e a cada um determinei uma pergunta a ser respondida, afim de que produzissem um texto coletivo. O tema: A degradação do meio ambiente, a tipologia textual: narrativa. Eis as perguntas

GRUPO A - O que aconteceu?
GRUPO B - Onde aconteceu?
GRUPO C - Quando aconteceu?
GRUPO D - Quem foram os envolvidos?
GRUPO E - Qual foi o desfecho da história?

Adaptação da proposta postada no Blog Os cegos e os elefantes.

Os grupos se dispersaram e após o intervalo fizemos a socialização das respostas, e aí a surpresa. O texto que era pra ficar meio incoerente, saiu melhor que se fosse produzido individualmente, tal foi a unidade de sentido que se estabeleceu. Vamos ao texto:

GRUPO A - O que aconteceu?

Um incêndio devastou toda a floresta, dizimando inúmeras espécies animais e vegetais. A catástrofe de dimensão incalculável sensibilizou a população mundial.

GRUPO B - Onde aconteceu?

Este terrível desatre ambiental ocorreu na Serra da Cantareira, local de imensa beleza, com flora e fauna exuberante, um dos mais belos cartões-postais do país.


GRUPO C - Quando aconteceu?

E foi justamente naquela primavera maravilhosa de 2007, em que as árvores floridas coloriam aquele lugar,onde e eu jamais pensei que tudo começaria com aquela bituca de cigarro jogada por mim,sem pensar que algo tão insignificante pudesse causar tamanha devastação.

GRUPO D - Quem foram os envolvidos?

Os animais e os moradores das proximidades sofreram com os danos causados pelo incêndio.

GRUPO E - Qual foi o desfecho da história?

Pois é! Muita coisa mudou por causa desse acontecimento: no sertão agora cai neve,as chuvas por lá são freqüentes, a Amazônia virou plantio de soja. E o sul? Virou sertão.Enfim estamos colhendo o que plantamos!!!


A natureza não fica sem resposta
Um incêndio devastou toda a floresta, dizimando inúmeras espécies animais e vegetais. A catástrofe de dimensão incalculável sensibilizou a população mundial.
Este terrível desastre ambiental ocorreu na Serra da Cantareira, local de imensa beleza, com flora e fauna exuberante, um dos mais belos cartões-postais do país.
E foi justamente naquela primavera maravilhosa de 2007, em que as árvores floridas coloriam aquele lugar,onde e eu jamais pensei que tudo começaria com aquela bituca de cigarro jogada por mim,sem pensar que algo tão insignificante pudesse causar tamanha devastação
Os animais e os moradores das proximidades sofreram com os danos causados pelo incêndio.
Pois é! Muita coisa mudou por causa desse acontecimento: no sertão agora cai neve, as chuvas por lá são freqüentes, a Amazônia virou plantio de soja. E o sul? Virou sertão. Enfim estamos colhendo o que plantamos!!!


Vânia,Rossana,Nielson, Cássia, Kátia,Célia,Carmem,Micheline,Ana Cristina,Wedna Cristina, Fernanda.

Os risos que deveriam acontecer por causa da estranheza do texto a ser formado, aconteceram justamente porque a sintonia do grupo foi perfeita. O incêndio foi geral!!!
Isso é que é entrosamento!

Mais uma atividade, agora do AAA. Em grupo os professores, enumerariam o texto Uma história sem pé nem cabeça. p. 75 do AAA5.
Mais uma vez exploramos o AAA para verificarmos as muitas atividades que podem ser aplicadas em sala de aula.

E para aprofundar ainda mais o estudo apresentei os slides do material da formação Propagandas e Revistas, objetivando reconhecer a criatividade dos textos e como eles estabelecem uma relação de coerência.
Os slides Frases de jornais também serviram de estudo para que se percebesse a incoerência dos textos e que modificações deveriam ser feitas para corrigi-los.

Finalizei estabelecendo prazos para a apresentação do esboço do projeto. ( nesse aspecto os professores não avançaram muito, pela mesma razão da pouca exploração dos AAAs: falta de tempo)

Quanto a vivência do Avançando na prática, há de fato mudanças na metodologia aplicada e na próxima postagem registrarei algumas produções e imagens dos trabalhos desenvolvido



A Educação é um processo social,é desenvolvimento,não é a preparação para a vida, é a própria vida.
John Dewey
Um dia de muito estudo- Oficina de oito horas
09 de setembro

Abertura : Abraço Mineiro
Exibição do vídeo: O saber e o sabor – reflexão e comentários
Iniciando o estudo do TP 5 Unidade 17
• Leitura da página 13 e 14 - TP 5
• Leitura dos Objetivos da Unidade
• Fazendo uma análise estilística da canção Valsinha- Chico Buarque
• Intervalo
• Uma abordagem sobre paradigma e sintagma
• Trabalho coletivo – Traduzir-se – Ferreira Gullar
• ALMOÇO
• Dinâmica – uma lembrança entregue com estilo
• Trabalho em grupo Analise estilística com socialização: Música Amor e Sexo Rita Lee/Roberto de Carvalho/Arnaldo Jabor
• O Projeto
• O Portfólio
• Tarefa de casa ( Avançando na Prática)
Com a leitura da Unidade 17 do TP 5 ficou claro que fazer uma análise estilística de um texto vai muito além de dividir as sílabas poéticas, trabalhar rimas, versos e estrofes.
A música de Chico Buarque Valsinha foi o texto trabalhado, com o objetivo de reconhecer os aspectos estilísticos:

VALSINHA
De: Vinícius – Chico Buarque

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se ousava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanto felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Primeiro fiz comentários sobre a memória discursiva.
Valsinha, uma canção de Chico Buarque de Holanda dedicada a um movimento social dos anos 70 denominado hippie, pregava a liberdade de ação do indivíduo. Essa prática levava as pessoas a agirem livremente e sem preconceito no período de repressão do Governo Militar.Normalmente, seus seguidores viviam em grupos, preconizavam o amor,aboliam a discriminação racial e faziam sexo livremente, isento de condenação. A alusão que Chico faz ao movimento é figurada na performance de um casal que, “um dia“, muda a sua conduta e toma outro rumo na vida. A homenagem a esse evento de vanguarda retrata metaforicamente o lirismo vivido por seus integrantes como artifício para fugir da censura política. A Estrutura do texto também foi discutida e assim fomos cada vez nos aprofundando na leitura :Valsinha é estilisticamente um poema. Além de sua estrutura poética,possui a narrativa, o que faz dela um mini conto, pois possui um só núcleo. Sua narração começa em um momento qualquer (um dia) e as ações são introduzidas seqüencialmente até chegar a um fim esperado.Por isso, a narração é heterodiegética, centrada no narrador. Com o foco narrativo na 3.ª pessoa, o narrador vê tudo à distância e conduz o fato sem interferir na história. Assim, o ele controla todo o saber, sem limitações de profundidade externa ou interna, em todos os lugares ou em todos os tempos. Em resumo, o texto é narrado por um narrador onisciente. Quanto aos Marcadores da narrativa e da oralidade, O texto apresenta conjunções como marcadores da oralidade, nas quais o narrador apóia-se para ustentar sua narrativa. Ex. e..., e..., pra...,depois..., então...Como marcadores da narrativa destacam-se o tempo (um dia, muito tempo), o espaço (num canto, praça, cidade, o mundo) e os verbos que cumprem sua função nas modalidades de pretérito perfeito e Imperfeito: “Chegou...”, “diferente...”, Olhou-a ...”, “costumava ...”, “maldisse...”
Esse foi o aspecto que mais demoramos na reflexão, uma vez que percebemos o quanto é prazeroso e significativo trabalhar a gramática de forma contextualizada. Em seguida verificamos a instância lexical e identificamos as palavras mais sedutoras: “quente..., bonita..., decotado..., ternura...,beijos loucos”,Palavras mais próximas semanticamente: “A guardado... esperar;Há... muito tempo; ternura... graça; despertou... iluminou; gritos...ouvir; compreensão... paz; maldisse... falar; só... canto; bonita... ousar;tanto... tantos; dança... rodar.”Palavras mais distantes semanticamente: chegou... foram;maldisse... paz; diferente... sempre; só... abraçar.Por conta do entendimento semântico de Valsinha, que retrata uma ação diferente do passado e nos remete à idéia de aproximação, há poucas palavras que se contrapõem no sentido de distanciamento.Indo ainda mais longe, ampliamos o conhecimento quanto ao eixo paradigmático da canção.
Do ponto de vista sintático, destacamos os sujeitos presentes na
canção (SN – sintagma nominal) e seus respectivos predicados (SV –
sintagma verbal). Na primeira fase da apresentação o SN é o pronome
definido ELE. Na segunda, ELA. Finalmente OS DOIS. Há, também, outros
SN que são introduzidos no enredo e fazem parte do contexto, sem
importância central. São eles: Toda a Cidade...; A vizinhança...; Beijos
loucos...; Gritos roucos...; O mundo...; O dia.
Mas o eixo paradigmático da canção é marcado pelo SV, mais
notadamente com a presença dos verbos terminados em AR, como por
exemplo: “chegar...; Olhar...; Rodar; Ousar etc.

E finalmente falamos sobre Métrica
Tomando como exemplo os quatro últimos versos, podemos escandi-los e
dar nomes aos metros da seguinte forma:

1 2 3 4 5 6 7 Definição
tan tos gri tos rou cos Redondilha menor
co mo não Se o u vi a mais redondilha maior
que o mun do com preen deu hexassílabos
e o di a a ma nhe Céu em paz Redondilha maior

Explorando ainda mais identificamos as Metáforas;
A canção é inteiramente metaforizada. Algumas metáforas mais
expressivas podem ser destacadas facilmente na canção.
Metáfora Sentido semântico
Vestido decotado =Camisola.
Cheio de ternura =Cheio de desejos, volúpia.
Foram para a praça= Foram para a cama.
Só num canto =Abandonada.
Pra rodar =Fazer amor.
Cheirando a guardado= Engavetado.
Dançaram tanta dança= Fizeram muito sexo – Jogo do amor.
O mundo compreendeu= A felicidade é transparente.

Falamos também sobre o Jogo das pressuposições, tão importante para compreensão do texto,Tomando como exemplo o seguinte verso: “um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar”. Por esse verso pressupõese
que antes do movimento hippie os sentimentos femininos em relação à liberdade sexual eram mais reprimidos. A manifestação de desejos e emoções em relação à vida sexual não se dava de maneira explícita. Com o seu surgimento, as relações humanas sofreram uma mudança brusca de comportamento, principalmente afetivo. A partir daí, os sentimentos e desejos são mais encorajados pelo prazer, sem censura, sem repressão
ou sem estado de culpa. A liberdade nele presente permitiu transformar
sentimentos que antes eram introspectivos e ocultos em demonstrações mais eróticas.
E por último a questão da rima.
As rimas de Valsinha parecem ser simples, tendo a presença dos verbos
terminados em “AR” na primeira estrofe de cada verso. A segunda estrofe
não apresenta a mesma simetria da primeira, variando a terminação sem
preocupação com a rima. Mas, nem por isso não podemos afirmar que as
rimas que se apresentam na canção não são muito sofisticadas. Elas
existem certamente em diversas instâncias, principalmente em um
recurso raramente encontrado em cançõs: são as rimas toantes internas.
A seguir, destacamos alguns pares dessas rimas:
Canto Grande
Sempre Tempo
Quanto Espanto
Loucos Roucos
Com convidou-a

Conclusão do ponto de vista estilístico.
Valsinha é uma canção que pode ser considerada como um mini
conto. Sua história ocorre no pretérito, em um momento qualquer, e
chega a um tempo indeterminado com a exibição de uma sensível
mudança de estado. Para consolidar as ações e estabelecer marcas que
determinam seu intento, o eu-lírico narra na 3.ª pessoa, com verbos
enfáticos que consagram um gesto pragmático no tempo. Para isso, esses
sintagmas verbais se apresentam, quase que sempre, com as desinências
temporais nos pretéritos perfeito e imperfeito. Assim, “um dia” ele
“chegou”, “olhou” e convidou”. Chegou de maneira diferente do usual,
mudando o estado em que se encontrava, pois “costumava” agir de uma
maneira e passa por uma transformação, a ponto de externar seus
sentimentos incutidos e sufocados em “gritos roucos”, como não se
“ouviam” mais.
Para provocar a idéia de valsar, o autor vale-se de repetições como
“tanta dança”, “tanta felicidade”, “tantos beijos”, “tantos gritos”, criando
uma mistura de significados que provocam um verdadeiro “rodopio” na
percepção do leitor, até atingir seu intento. Outro importante detalhe a
ser observado é que os versos começam organizados e longos e, à
medida que o enredo vai tomando seu curso final, eles se encolhem e
incorporam elementos que nos remetem à idéia de estreitamento e
movimentos circulares, como se quisessem simular os movimentos de
uma valsa.
Seus recursos estilísticos são vastos. Do ponto de vista lexical, o
autor usa palavras que se assemelham, cujos pares residem na mesma
raiz, na tentativa de provocar o mesmo significado. Nesse sentido,
podemos dizer que Valsinha é a mais pura poesia, pois as palavras vão e
vêm provocando fortes sentimentos na sua interpretação.
Morfologicamente, as raízes das palavras também se fazem presentes,
mas com o uso de categorias diferentes dos verbetes. É o caso do verbo
“dançar” e do substantivo “dança”. Na relação morfossintática,
observamos que o grande paradigma fica por conta do sintagma verbal,
que ricamente se alterna em diversas situações. Nesse sentido, o
sintagma nominal ganha outras formas e age de maneiras diferentes,
destacando-se em importância no enredo. Os verbos se apresentam com
rigor e firmeza. Suas ações são decisivas. Às vezes eles mudam de
estado, passando de pretérito perfeito para imperfeito, para provocar
uma idéia de continuidade. É o caso de “costumava”.
Não é só na rica estrutura estilística que o poema é admirado. Do
ponto de vista semântico, Valsinha provoca uma grande surpresa. Com
metáforas ricas e invariavelmente “in absentia” (ausente), como podemos
observar em “seu vestido decotado”, o sentido figurado de suas
metáforas consolida-se em uma metáfora maior que enaltece o
movimento hippie da década de 70, em pleno regime de ditadura militar.
Esse movimento social não se sujeitava às imposições retraídas da
sociedade de então, permitindo a expressão de liberdade dos seus
seguidores, os quais usualmente viviam em grupos, preconizavam o
amor, aboliam a discriminação racial e faziam sexo livremente. Valsinha
exalta a liberdade dos integrantes desse movimento e a ousadia das
manifestações nas suas relações afetivas, até então reprimidas e
sufocadas na sociedade. A grande surpresa da canção fica por conta de
seu sentido metafórico. A idéia concebida de que se refere a um casal
apaixonado, deixa de ser tão importante para valorizar-se em uma
dimensão maior: a do engajamento social. Seu sentido é muito mais
global e universal, pois faz alusão a um movimento de caráter
revolucionário que ousou desafiar a sociedade tradicional da época e
contestar os valores e os padrões de seus regimes dominantes.

Os professores gostaram muito dessa releitura da música, muitos já a conheciam,mas nunca tinham parado para analisá-la.As discussões seguiram a cerca de como uma leitura bem planejada amplia a visão de mundo dos alunos.

Como proposta de trabalho a turma foi dividida em grupos para análise dos mesmos aspectos trabalhados em Valsinha, só que agora com a música Amor e sexo de Rita Lee,( percebe-se que o tema da oficina girava em torno do sexo, foi proposital, pois em conversas com os cursistas surgiu a necessidade de abordar esse tema em sala de aula,principalmente no turno noturno e levando-se em consideração o fato de os professores ainda não se sentirem à vontade para desenvolver essa temática )

Como a música tem uma melodia gostosa a leitura transcorre sem muito esforço.

Amor e Sexo
Rita Lee

Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...
Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema..
Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...
O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!
Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...
Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...
Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois...
Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!
Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!

A socialização dos trabalhos foram fantásticos e daí surgiram sugestões de outros textos para trabalhar com os alunos, da mesma maneira que trabalhamos na oficina.Ficou acordado então que faríamos um banco de textos com a contribuição de todos.
“Com o GESTAR o sabor da leitura parece ter vindo pra ficar” esse é um depoimento da professora Rossana.

Demos uma paradinha para um delicioso almoço, um breve intervalo e logo voltamos.

Como após o almoço dá certa moleza,era hora da surpresa: Cada professor recebeu uma camisa do GESTAR, mas na embalagem, o nome estava trocado e assim, já que estávamos falando de ESTILO, cada um a seu estilo iria entregar a camisa.Teve declarações de amizade,elogios,definição de característica, enfim , foi divertido.
Tenho tido o cuidado de trabalhar a formação de modo que as pessoas se sintam reconhecidas, valorizadas, afinal um curso de formação continuada se não fizer a gente crescer enquanto ser humano, deixa uma lacuna.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Finalizando o TP 4 – 22/08

Um jeito novo de ler Drummond

Na Escola Éster Siqueira de Souza, onde os alunos não têm muita sede de leitura( como na maioria das escolas), ainda mais se essa leitura se tratar de textos literários, uma maneira dinâmica de ler poemas fez a diferença.
Ao trabalhar o poema Cidadezinha Qualquer de Carlos Drummond de Andrade a professora Carmelinda deu uma mexida nos alunos,explorou tão bem o texto que os alunos resolveram dramatizar e o que é melhor confeccionar o cenário e apresentar para outras turmas.
Já na Escola Manuel Rodrigues Arcoverde, a profesora Micheline propôs um recital e não é que os alunos declamaram,sem papel!!!
Emocionada Micheline exclamou:
_Meu Deus, meus alunos estão lendo Drummond!!!
Foi com esses relatos do Avançando na Prática que demos início ao 6º Encontro, quando finalizaríamos o TP 4. ( Esse TP deu pano pra manga)
Alguns registros da dramatização na Escola Ester Siqueira de Souza.

Após os relatos iniciamos o estudo da Unidade 16 lendo os objetivos das sessões:
1. Identificar crenças e teorias que subjazem às práticas de ensino da escrita;
2. Relacionar as práticas comunicativas com o desenvolvimento e o ensino da escrita como processo;
3. Identificar dimensões das situações sociocomunicativas que auxiliam no planejamento e na avaliação de atividades de escrita

Em seguida propus a leitura do texto Minhas não-férias objetivando uma reflexão sobre as aulas de redação e indagando se há diferença entre redação e produção textual.Foi uma boa conversa, com muitos desabafos, posso dizer assim, uma vez que há uma dificuldade muito grande em se trabalhar a produção de textos de forma significativa.É interessante perceber como os cursos de graduação ( e pós-graduação) não trabalham efetivamente com a escritura e (re)escritura de textos e ainda como os professores desejam se apropriar do assunto para que os alunos vejam sentido em produzir textos e para corrigirem, sem com isso desmotivá-los,mas sim fazê-los aperfeiçoar a escrita.

"Escrever para mim só tem sentido quando alguém lê o que escrevo. Um texto só se torna texto quando chega do outro lado, quando atinge o leitor e faz com que ele se sinta identificado com as palavras."
Clarice Casado

A partir dessa frase de Clarice Casado, autora do texto Minhas não-férias, que discutimos sobre ALGUMAS CRENÇAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO EO ENSINO DA ESCRITA.

A metodologia para dinamizar a discussão foi a divisão da turma em 4 grupos que iriam refletir e expor no grande grupo as observações e considerações sobre cada crença ou teoria abordada.

 A escrita é uma transcrição da fala;
 Só se escreve utilizando a norma padrão;
 Todo bom leitor é bom um escritor;
 Na escola escreve-se para produzir textos narrativos, descritos e dissertativos;

Finalizadas as discussões, que demoraram mais do que o previsto e eu considero esse extrapolar o tempo um ótimo sinal, pois é na troca de experiências que o grupo cresce e assim, quantos equívocos e mitos sobre a escrita foram exterminados e ainda quantas considerações relevantes foram feitas. Dentre elas:

A leitura e a escrita só serão significativas se fizerem sentido, disse a professora Célia ao relatar que precisou mudar o plano de aula por causa de um buraco que surgiu no caminho da escola, era o assunto do dia. Assim ela aproveitou e explorou o tal “buraco” pedindo que descrevessem, dessem uma solução para o problema, identificassem o responsável pela solução do problema. Foi uma aula proveitosa, completou ela.

Ainda sobre as crenças e teorias, refletimos sobre o dom (será que ele existe???) As opiniões divergem, mas o TP esclarece quando resume afirmando que “há pesquisas em andamento sobre o desenvolvimento de altas habilidades, mas o de que se tem certeza é que mesmo aqueles que apresentam facilidade na escrita e aqueles que se tornaram poetas, escritores, jornalistas, entre outras profissões que poderíamos citar, têm que trabalhar muito, entender seus objetivos, pesquisar sobre o tema que estão tratando, assim como sobre o gênero e outros elementos da situação sociocomunicativa e que para desenvolver a escrita precisamos ensiná-la e praticá-la.
Comentários feitos, passamos para a leitura do texto A redação e o dicionário de Lygia Bojunga Nunes.Esse texto nos fez refletir sobre o uso, muitas vezes equivocado, do dicionário e o quanto é importante saber utilizá-lo e que para isso é preciso ter objetivos claros e PLANEJAR, do contrário, a pesquisa não faz sentido e é aí que entra a Semântica.

É fundamental que os alunos compreendam que as palavras podem possuir mais de um significado e que é o contexto que vai determinar qual é o significado mais apropriado.
A redação e o dicionário
Lygia Bojunga Nunes

Se você fosse morar numa ilha deserta e distante e só poderia levar um livro pra ler
por lá, que livro você levaria?
Quando chegou a minha vez de responder a essa pergunta eu disse que, mesmo
não gostando de carregar peso em viagem, eu levava um dicionário da minha língua.
Mas eu só senti o gosto do dicionário quando eu comecei a escrever livro. E assim
mesmo, foi um gosto que veio vindo devagar.
Eu tive uma professora de português que achava impossível a gente viver sem um
dicionário perto. Eu não gostava da professora; ela tinha unha cumprida e pintada de um
vermelho meio roxo, quando ela escrevia no quadro volta e meia a unha raspava a
pedra. Que aflição! Mas não era por isso que eu não gostava dela não: eu tinha dois
motivos muito mais emocionais que a unha. O primeiro é que eu achava que ela tinha
tomado o lugar da professora anterior, que eu adorava; o segundo é que ela corrigia
timtim por timtim tudo que é redação que eu fazia. Usando caneta. E, pelo jeito, eu
cometia tanta barbaridade gramatical, que ela se via obrigada a reescrever a minha
redação quase que todinha. Com tinta vermelha.
Quando eu relia a minha escrita, assim toda avermelhada para um português
correto, eu sempre sentia a impressão esquisita que a minha redação tava fazendo careta
pra mim.
Mas eu nunca parei pra pensar por que eu sentia assim. Me lembro que eu ficava
chateada e pronto: esquecia a careta. E quando eu tinha de novo que fazer redação eu
me aplicava igualzinho: redação era o único dever que gostava de fazer.
A professora corrigia tintim por tintim outra vez. E a nota que ela me dava ficava
sempre em torno do 5. Ela justificava a dádiva com a seguinte observação: composição
imaginativa. Embaixo do FIM que eu botava sempre no fim da minha redação, ela
escrevia um lembrete (vermelho também):
“Habitue-se a consultar o dicionário.”
Não deu outra: me habituei a nunca abrir um dicionário.
[…]

E vem mais texto...

A proposta seguinte foi formar um grande círculo para realização da dinâmica da BOMBA.
Cada membro do grupo recebeu o texto “Chapeuzinho Vermelho de raiva” de Mário Prata.É um ótimo texto para trabalhar intertextualidade e temas como meio ambiente, industrialização e saúde, relacionamento entre avós e netos nos tempos passados e atualmente,cultura e ainda alguns aspectos gramaticais como diminutivos e aumentativos ( numa perspectiva de compreensão do valor semântico das palavras no grau diminutivo, que nem sempre indicam tamanho e sim grau de afetividade, como na palavra “netinha” e ainda ironia, como por exemplo na palavra “queridinha”,não mais dando uma lista de palavras para serem colocadas no diminutivo ou aumentativo, isso nossos alunos já sabem,não é mesmo?)


E a BOMBA? A bomba era um livro, que por sinal eu recomendo, cujo título é LEITURA E (RE)ESCRITURA DE TEXTOS subsídios teóricos e práticos para o seu ensino , da autora Maria Luci de Mesquita Prestes – Editora Respel.Esse livro tem ótimas sugestões e abordagens sobre produção textual.

Então... A bomba, digo o livro ia passando ao som da música cantada por nós:

“Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau
Pego as criancinhas pra fazer mingau.”

Só para lembrar da historinha de Chapeuzinho Vermelho da nossa época.
Quem estivesse com a bomba nas mãos quando chegasse na palavra mingau iria tirar de um saco uma pergunta sobre o texto e responder.

Eis o texto e logo em seguida as perguntas.

Chapeuzinho vermelho de raiva
Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da vovó, fica.
- Mas vovó, que olho vermelho... E grandão... Que que houve?

- Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. Aliás, está queimada, heim?

- Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a mal, não, mas a senhora está com um nariz tão grande, mas tão grande! Ta tão esquisito, vovó.

- Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do bosque que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este ar horrível. Chegue mais perto, minha netinha, chegue.

- Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos chego aqui com a minha moto.

- Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme?

- Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora. Olha aí: margarina, Helmmans, Danone de frutas e até uns pacotinhos de Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu? Lembra da indigestão do carnaval?

- Se lembro, se lembro...

- Vovó, sem querer ser chata.

-Ora, diga.

- As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por cima, peluda. Credo, vovó!

- Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. Onde já se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me desculpe porque foi você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que diz, não é? Pois é; estas guitarras são muito barulhentas. Não há ouvido que aguente, minha filha. Música é a do meu tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando valsas... Ah, esta juventude está perdida mesmo.

- Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato, hein? Todo desfiado, pra cima, encaracolado. Que qué isso?

- Também tenho que entrar na moda, não é, minha filha? Ou você queria que eu fosse domingo ao programa do Chacrinha de coque e com vestido preto com bolinhas brancas?

Chapeuzinho pula para trás:

- E esta boca imensa???!!!

A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava:

- Escuta aqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar é?!

Mario Prata


As perguntas...

O que é desenvolver uma leitura com construção de sentidos?

Que pergunta(s) você faria aos seus alunos para o trabalho implícito do texto( inferências)?

O texto amplia a visão de mundo do aluno? Em que momento?

Após a exploração do texto, é possível fazer os alunos compreenderem uma cultura que talvez não seja a deles?

Que perguntas poderiam ser feitas para a percepção da intertextualidade?

Como desenvolver a criticidade dos alunos diante do contexto do texto?

Depois da leitura, interpretação e compreensão de texto que atividade de criação de um texto seria interessante?

No texto aparecem vários diminutivos. Como você trabalharia o grau do substantivo usando este texto?
Você considera esse trabalho como gramática contextualizada?

No texto há marcas de oralidade? Cite-as.

Como você trabalharia esse aspecto com os alunos com a finalidade de aperfeiçoar a língua?
Finalizada a dinâmica apresentei os slides sobre a decadência da música brasileira para que pudéssemos entender as mudanças, neste caso maléficas, na maneira de se expressar sentimentos e lidar com relacionamentos,pegando a deixa do texto lido anteriormente quando mostrava o relacionamento e a maneira de pensar da avó e da neta, especialmente quando a avó lembra das músicas de quando ela era jovem.

E pra descontrair nada melhor que Chico Bento.

Entreguei para os professores um texto muito engraçado: Chico Bento em “Os pés” - infelizmente não tenho essa HQ no meu computador e nem achei na internet, mas é mais ou menos assim:

A professora de Chico pede que a turma faça uma redação com um tema Hospedagem e Chico resolve então ler a produção dele para a turma, o que surpreende a todos.
E ele começa:

Os pé da gente
Os pé da gente são a parte do corpo qui serve pra andá i fazê a curva!
Quem tem dois pé é bípede,quem tem um é saci e quem tem mais di dois precisa di médico!Isto é se num for animar Ne?
Na natureza inziste vários tipo de pé!
Pé di fruta, pé di vento,pé d’água.
De todos os pé que inziste tem um que eu adoro:
É o pé-de-moleque im compensação o pior qui conheço é o pé no ouvido....

E por aí vai... Imaginem a cara da professora e a nota que o Chico ganhou.

O texto serviu para que, claro déssemos boas risadas, mas também para refletirmos sobre a didática da professora que deu ZERO a Chico, uma vez que ele entendeu Os pé da gente e não hospedagem, isso mostra que Chico não conhecia a palavra HOSPEDAGEM e para justificar a produção afirmou que a professora havia errado ao escrever no quadro, dizendo que ela esqueceu a sílaba TE e ainda escreveu tudo emendado, aí ele completou “Hospedagente” e elaborou o texto falando de tudo quanto era pé.

Foi unânime a opinião de que Chico não merecia ZERO, pois o tema “os pés”, como havia entendido tinha sido bem explorado e que a postura da professora foi lamentável, ela deveria ter valorizado a produção e depois fazer as observações sobre o tema pedido por ela.

É uma pena, mas ainda temos muitos professores iguais a de Chico...

Em breve foto da turma com a camisa do GESTAR II e depoimentos sobre como tem sido o trabalho nas turmas laboratório.

P.S. Vou tentar scanear o texto de Chico Bento e colocá-lo no blog do GESTAR PE, vale a pena fazer um trabalho com ele.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ainda na TP 4 – 08 de agosto

Pela relevância da temática desta TP continuamos o estudo da mesma. A intenção é criar um banco com estratégias de leitura e produção de textos. Assim sendo alguns textos foram escolhidos para serem lidos e interpretados ( na perspectiva de elaboração de questionamentos significativos para realização efetiva das leituras que se dá pela elaboração de perguntas bem alaboradas.)
Como estratégia de leitura os cursistas receberam fragmentos dos textos a serem trabalhados, e em seguida tiveram de procurar os fragmentos que completavam o texto, até que cada texto estivesse inteiro. Dessa maneira formaram-se os grupos.

Eis os textos

Texto 1

O dia em que eu mordi Jesus Cristo
Ruth Rocha

Eu estava numa escola onde não tinha aula de religião.
E todos os meus amigos já tinham feito a primeira comunhão, menos eu.

Então me deu uma vontade danada de fazer primeira comunhão. Eu nem sabia direito o que era isso, mas falei pra minha mãe e pro meu pai e eles acharam que até podia ser bom, que eu andava muito lavada e coisa e tal, e me arranjaram uma tal de aula de catecismo, que era na igreja.

Aí eu não gostei muito, que todo sábado de manhã, enquanto meus amigos ficavam brincando na rua, eu tinha que ir na tal aula. Eu ia, né, e aí eu arranjei uns amigos e tinha uma menina boazinha que vinha me buscar que ela também ia na aula e a gente ia pra igreja rindo de tudo que a gente via.

E na aula a gente aprendia uma porção de coisas, e tinha uma que eu achava engraçada e que era uma rezinha bem curtinha, que se chamava jaculatória. Eu achava esse nome meio feio, sei lá, me lembrava alguma coisa esquisita...

E o padre uma vez mostrou pra gente um livrão, que tinha uma figura com o inferno e uma porção de gente se danando lá dentro.

E a gente tinha que aprender a rezar a Ave-Maria e o Padre-Nosso e o Creindeuspadre.

E tinha um tal de ato de contrição, e uma tal de ladainha, que a gente morria de rir.
E aí a gente começou a aprender como é que se confessava, que tinha que dizer todos os pecados pro padre e eu perguntava pro padre o que era pecado e ele parece que nem sabia direito.

Quando eu chegava em casa e contava essas coisas, meu pai e minha mãe meio que achavam graça e eu comecei a achar que esse negócio de primeira comunhão era meio engraçado...

E aí o padre começou a explicar pra gente como era a comunhão e que a gente ia comer o corpo de Cristo, que na hora da missa aquela bolachinha chamada hóstia vira o corpo de Cristo.

Eu estava muito animada era com o meu vestido novo, que era branco e era cheio de babados e rendas, e na cabeça eu ia botar um véu, que nem a minha avó na missa, só que o meu era branco e mais parecia uma roupa de noiva.

E eu ganhei um livro de missa lindo, todo de madrepérola, e um terço que eu nem sabia usar, minha mãe disse que antigamente as pessoas rezavam terço, mas que agora não se usava mais...

E o dia da comunhão estava chegando e a minha mãe preparou um lanche, ia ter chocolate e bolo e uma porção de coisas, que a gente ia voltar bem depressa da igreja, que quem ia comungar não ia poder comer antes da missa. E era só eu que ia comungar.

E eu perguntei pra minha mãe por que é que ela nunca comungava e ela disse que um dia desses ela ia.

E eu perguntei por que é que o meu pai nunca ia na igreja e ele disse que um dia desses ele ia.

E aí chegou a véspera da minha comunhão e eu tive de ir confessar. E eu morri de medo de errar o tal ato de contrição e na hora que eu fui confessar mandaram eu ficar de um lado do confessionário, que é uma casinha com uma janelinha de grade de cada lado e um lugar de cada lado para ajoelhar, e o padre fica lá dentro.

Eu ajoelhei onde me mandaram e aí eu ouvia tudo que a menina do outro lado estava dizendo pro padre e era que ela tinha desobedecido a mãe dela e o padre mandou rezar vinte Ave-Marias.

Eu fiquei meio que achando que era pecado ouvir os pecados dos outros, mas como ninguém tinha falado nada pra mim eu fiquei quieta, e quando o padre veio pro meu lado eu fui logo falando o ato de contrição: eu pecador me confesso e o resto que vem depois.

E eu contei os meus pecados, que pra falar a verdade eu nem achava que eram pecados, mas foi assim que me ensinaram. E aí o padre disse uma coisa que eu não entendi e eu perguntei “o quê” e o padre disse "vai tirar o cera do ouvido”. E eu disse “posso ir embora?” e ele disse “vai, vai logo e reze vinte Ave-Marias”. E eu achei que ele nem tinha escutado o que eu disse e que ele que precisava tirar a cera do ouvido.

No dia seguinte eu botei o meu vestido branco e eu não comi nadinha, nem bebi água, e nem escovei os dentes, de medo de engolir uma aguinha.

E eu estava morrendo de medo, que todo mundo tinha dito que se a gente mordesse a hóstia saía sangue.

A igreja cheirava a lírio, que é um cheiro que até hoje eu acho enjoado.

As meninas e os meninos que iam fazer primeira comunhão ficavam lá na frente, nos primeiros bancos e davam pra gente uma vela pra segurar.

O padre foi rezando uma missa comprida que não acabava mais e às tantas chegou a hora da gente comungar e as meninas foram saindo dos bancos e foram indo lá pra frente e ajoelhando num degrau que tem perto de uma grade.

E o padre veio vindo com uma taça dourada na mão e ele tirava a hóstia lá de dentro e ia dando uma por uma para cada menina e menino.

Aí chegou a minha vez e abri bem a boca e fechei os olhos que nem eu vi as outras crianças fazerem e o padre botou a hóstia na minha língua. Eu não sabia o que fazer, que morder não podia e a minha boca estava sequinha e a hóstia grudou no céu da boca eu empurrava com a língua e não desgrudava e enquanto isso eu tinha que levantar e voltar pro meu lugar que já tinha gente atrás de mim querendo ajoelhar.

E eu nem aprestei atenção e tropecei no vestido da Carminha e levei o maior tombo da minha vida.

É claro que eu fiquei morrendo de vergonha e eu levantei e nem prestei atenção se eu tinha machucado o joelho. O que estava me preocupando mesmo é que eu tinha dado a maior mordida na hóstia.

Eu estava sentindo tudo que é gosto na boca, que devia de estar saindo sangue da hóstia, mas não tinha coragem de pegar pra olhar.

Aí eu pensei assim: “se eu não olhar se saiu sangue agora, nunca mais na minha vida eu vou saber se é verdade essa história”.

Aí eu meti o dedo na boca e tirei um pedaço da hóstia, meio amassado, meio molhado. E estava branquinho que nem tinha entrado.

E foi assim que eu aprendi que quando as pessoas falam pra gente coisas que parecem besteira não é pra acreditar, que tem muita gente besta neste mundo!

Texto 2

Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita
.

LEONARDO BOFF em "A Águia e a Galinha"
Texto 3


Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Os grupos então colocaram o texto em ordem ( coerência) definiram como ele seria apresentado e ensaiaram a leitura, em seguida leram no grande grupo,concluindo a apresentação com a identificação da sequência tipológica predominante, abordagem a cerca do tema numa análise reflexiva.

Ainda em grupo propus a produção de um texto com as palavras:


MUXUANGO-HERMENEUTA-VITUPERADO-DEFENESTRAÇÃO-PERFUNCTÓRIO-FALÁCIA-IGNÓBIL-SIBILINO-UXORICÍDIO-APOPLEXIA


O objetivo é brincar com a produção textual, sem apego aos significados das palavras,numa perspectiva de sair dos exemplos engessados das redações escolares.
Ai vão as produções: o resultado é sempre um barato...

Grupo 1


MUXUANGO SOFRE APOPLEXIA
O MUXUANGO HERMENEUTA VITUPERADO DE TANTA DEFENESTRAÇÃO DECIDIU RESOLVER O PROBLEMA DO PERFUNCTÓRIO SEM TANTA FALÁCIA, DE FORMA IGNÓBIL E SIBILINO. CHEGANDO FINALMENTE AO UXIRICÍDIO, FOI DIRETAMENTE A RESOLUÇÃO DA APOPLEXIA.


Grupo: Maria Célia, Micheline, Wedna Cristina, Erivânia ( Vânia para os íntimos) e Magneide.


Grupo 2


Falácia foi à farmácia comprar um pacote de apoplexia, pois estava sentindo uma leve defenestração. No caminho encontrou Muxuango que lhe contou que o filho dele ficou de castigo na escola por fazer vários perfunctórios nas colegas.
Senhor Sibilino, o diretor da escola, um hermeneuta formado, disse que a atitude do menino merecia castigo ignóbil.
Daí Falácia, dando uma de especialista em uxoricídio, disse que a culpa era das meninas por terem vituperado o filho dele.
QUE LOUCURA... ( comentário meu)


Grupo: Ana Cristina, Erivaldo, anunciada e Nielson

Grupo 3


A perda do perfunctório
( vale fazer a antecipação da leitura - comentário meu)
Certo dia houve uma grande festa na casa do Senhor Muxuango, lá no meio do mato, onde os bichos faziam vituperados barulhos. O primeiro convidado, o Sr. Sibilino,apesar da apoplexia, chegou sorridente contado suas falácias.Contou que havia encontrado um leão quando estava a caminho e que bastou um gesto ignóbil para afugentá-lo.
_ Êta cabra mentiroso! – retrucou dona Hermeneuta, achando uma defenestração tal fato.
Estavam todos dançando quando seu Sibilino deu por falta do seu perfunctório, pois não bastasse a apoplexia, fazia duas semanas que não dormia direito com um uxoricídio incomodando a região sacra.
Seu Muxuango ficou preocupado com o desconforto do convidado e tratou logo de tomar as providências: pediu ao cantor que anunciasse no microfone a perda do perfunctório do seu Sibilino e solicitou que no caso de não encontrarem, alguém pudesse emprestar. Como recompensa ofereceu um bode gordo.
Não faltou quem quisesse procurar, e como não acharam, afila para o empréstimo foi grande, cabendo a seu Sibilino escolher que perfunctório queria usar.


Grupo: Fernanda, Kátia,Elioneide, Carmelinda( Carmem para os íntimos) e Cássia.

Terminada as apresentações, o melhor momento:> conferir os significado das palavras esquisitas.
Muxuango = caipira
Hermeneuta = estudo das leis
Vituperado = mal falado
Defenestração = jogar pela janela
Perfunctório =algo superficial
Falácia = mentira
Ignóbil = desprezível
Sibilino = enigmático
Uxoricídio = ato de matar a esposa


Após muita risada, refletimos o quanto essa atividade é apropriada para o trabalho com o dicionário e consequentemente para ampliação do vocabulário.


Pela importância e pertinência temática do texto de referencia da unidade 15 pag. 147 e 148 da TP 4, realizamos a leitura e respondemos oralmente os questionamentos pag. 149 e 150.
É de fato um desafio fazer com que os nossos alunos sejam leitores e produtores de textos e se apropriem da leitura e da escrita. No entanto o próprio texto nos aponta caminhos para amenizarmos essa situação que nos angustia.


Ainda falando sobre gêneros e tipos textuais apresentei os slides sobre Intergenericidade, Heterogeneidade tipológica, Intertextualidade, Suportes, Mecanismos lingüísticos, Domínios discursivos.


Encerramos com os relatos do Avançando na Prática


O Avançando na Prática, dessa vez, foi um só, pois assim orienta a TP 4, oficina 14.
Trabalhando com o poema Cidadezinha Qualquer.
Em breve as produções de alguns alunos.

Dica de leitura:
Esse livro de Ruth Rocha é fantástico, tem histórias comuns, contadas com muito humor.É ideal para trabalhar com alunos de 5ª série.










terça-feira, 4 de agosto de 2009

Iniciando o estudo da TP 4 –
24 de julho


Sendo o tema da TP 4 Leitura e Processos de Escrita I, a oficina foi iniciada com a declamação de um belo trecho da obra de João Cabral de Melo Neto.A princípio comuniquei aos cursistas que o tema do nosso encontro seria MORTE e VIDA: uma reflexão sobre o dom da vida.Assim declamei, sem papel, vale salientar, três cenas do Poema Morte e Vida Severina.


O meu nome é Severino,
como não tenho outro da pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria.
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel,
que se chamou Zacarias,
e que foi o mais antigo senhor
desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da Serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos
já finados,Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença)
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

_ Seu José Mestre Carpina
Que diferença faria
Se ao invés de continuar
Tomasse a melhor saída
A de saltar numa noite
Fora da ponte da vida?

— Severino retirante,

deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela
é esta que vê,severina;
mas se responder não pude
a pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim
pequena a explosão,
como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

Logo em seguida apresentei em slide o texto escrito por Pedro Bial sobre a morte de Bussunda, um dos integrantes do Programa Casseta & Planeta.

A morte por Pedro Bial

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do “Casseta & Planeta”deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena.Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e a perplexidade,que é mesmo o que causa em todos os que ficam.A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada,está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório,colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer.A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente… De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway,numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste.Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério?Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo? Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.
Por isso viva tudo que há para viver.Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida…Perdoe…. Sempre!!!”

A intenção ao apresentar os dois textos era principalmente promover um momento de deleite com as leituras, evidenciando que a estratégia de ler para os alunos fazendo opção por recitar ou declamar, como foi feito com Morte e Vida Severina, incentiva e aguça a curiosidade de ler a obra completa e apresentando outro texto, pertencente a outro gênero e com a mesma temática faz com que haja identificação de intertexto.Quanto ao tema é importante aproveitar as leituras para uma reflexão sobre o dom da vida e isso fica bem claro na finalização dos dois textos: O poema é finalizado com uma resposta de José às lamentações de Severino. Ele fala que é difícil defender a vida apenas com palavras, mas a própria vida responde com sua presença (o nascimento da criança). A melhor resposta é a explosão da vida, ainda que seja uma vida Severina e o texto de Bial termina com uma sequência tipológica injuntiva:
Viva tudo que há para viver.Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida…Perdoe…. Sempre!!!”

Terminado o momento das falas reflexivas, adentramos no estudo sobre Letramento e Alfabetização, a princípio ouvindo uns aos outros sobre o que cada um entende do assunto e em seguida apresentação dos slides com abordagens da escritora Magda Soares. O tema sem dúvida é polêmico e desafiador, foi dito por todos que há uma dificuldade muito grande de se alfabetizar letrando, porém o importante, disseram os professores, é que estamos buscando meios para vencer este desafio e um dos caminhos é a participação no Programa Gestar II.

Dando continuidade partimos para os relatos do Avançando na Prática.

Para realização da oficina propriamente dita propus uma dinâmica para divisão de grupos:
Cada cursita recebeu cartõezinhos diferentes, uns com poemas, outros com nomes de poetas e poetisas, outros com perfil dos escritores dos poemas, outros ainda com nomes de escolas literárias a qual pertencia os poetas. Assim tínhamos grandes poetas e magníficas poesias, neste caso: Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade.
O desafio era agrupar poeta-obra-perfil- escola literária. Formados os grupos eis a proposta de trabalho:

Planejar uma aula com o poema Cidadezinha Qualquer

Essas são as sugestões dos grupos:

Proposta para alunos de 5ª série

1.O texto seria dramatizado com fantoches, de maneira que cada grupo apresentaria o poema com um fantoche à escolha,podendo ser um menino, um animal, uma mulher, um homem.
Alguns questionamentos seriam feitos:
a) O que você sentiu ao ler o poema?
b) Descreva a cidadezinha segundo a sua visão.
c) Em sua opinião, o que o poeta quis dizer com o último verso “ ETA vida betsa meu Deus!”

Grupo:
Maria Carmelinda, Micheline Moraes e Magneide Viana

Proposta para alunos de 7ª série

2.A turma seria dividida em grupo para realização da leitura do poema.Em seguida seriam entregues algumas questões para serem respondidas e posteriormente socializadas no grande grupo.

a) O texto retrata a vida em uma cidade pacata, sem progresso, onde todos vivem de maneira simples e rudimentar, sem nenhuma perspectiva de mudanças.De acordo com o texto,relate as possíveis dificuldades dos habitentes dessa cidade.
b) O que há de semelhante e de diferente entre a cidade em que vocês moram e a cidade do texto?
Quanto aos aspectos gramaticais seriam explorados os verbos e a função que desempenham no contexto do poema.

Quanto aos aspectos estilísticos seriam observados a forma de apresentação do texto.

As sequências tipológicas também seriam identificadas para classificação do texto quanto ao tipo.

Grupo: Rossana, Erivânia e Cristiane

Proposta para alunos de 8ª série

3.A estratégia de leitura seria um jogral, concluindo com o último verso em uníssono.

Logo em seguida os grupos responderiam por escrito as seguintes questões:

a) De acordo com o poema, como é a cidade descrita?
b) Explicitem a opinião do autor a respeito da cidade.Vocês compartilham da mesma opinião? Justifiquem.
c) Quais as semelhanças e diferenças existentes entre a cidade descrita no poema e a sua cidade?

Grupo: Fernanda Cavalcante, Kátia Jumária, Willian Demétrio e Nielson Siqueira


Finalizadas as apresentações fizemos uma breve avaliação oral da oficina.

Síntese da avaliação: A oficina trouxe sugestões inovadoras de como trabalhar de maneira dinâmica e prazerosa a leitura com nossos alunos. O Gestar tem aberto novos horizontes.

Encerrando com muito, mas muito humor...

A declamação do poema Morte e Vida Severina incentivou tanto, que o professor Nielson Siqueira resolveu encerrar a oficina declamando o poema O Cume.Só pra descontrair.Vale a pena ler e vale mais a pena ainda dar boas risadas


POEMA DO CUME

No alto daquele cume

Plantei uma roseira

O vento no cume bate

A rosa no cume cheira.

Quando cai a chuva fina

Salpicos no cume caem

Formigas no cume entram

Abelhas do cume saem.

Quanto cai a chuva grossa

A água do cume desce

O barro do cume escorre

O mato no cume cresce.

Quando cessa a chuva

No cume volta a alegria

Pois torna a brilhar de novo

O sol que no cume ardia!"

ÓTIMO TEXTO PARA TRABALHAR CACOFONIA.