sábado, 6 de março de 2010

MEMORIAL DE LEITURA
Adriana Kelly

Filha de professores, embora o meu pai não tenha seguido carreira, fui criada num ambiente, posso dizer, alfabetizador. De um lado minha mãe envolta em livros, do outro meu pai envolto em melodias e letras do que há de melhor na música popular brasileira - ele é músico.
De fato toda a minha família sempre valorizou muito o estudo e logo cedo fui para a escola, o que não era comum antigamente, uma vez que só se entrava para a escola aos sete anos de idade, eu entrei aos quatro e aprendi a ler aos cinco anos.
Tive duas incentivadoras à leitura: minha primeira professora, que hoje é minha colega de trabalho, a qual menciono, com muito carinho, sempre quando falo com meus alunos que também são dela. Professora Socorro, minha primeira incentivadora à leitura, ainda de imagens, dos contos de fadas. A segunda foi uma tia que também é mãe, pois foi ela quem me criou, embora sempre estivesse em contato com o s meus pais, eu morei com ela até me casar.
Lembro-me das histórias, inventadas por ela, que me contava. Eu viajava para um mundo mágico.
Foi assim que me tornei uma pessoa apaixonada pelos livros.
Quando fazia a 4ª série do Ensino Fundamental ganhei um prêmio por ser a aluna que mais leu durante todo o ano. Eu devorava os livros que pegava emprestado, devolvia-os antes do prazo determinado. O prêmio foi um livro que guardo até hoje, é uma coletânea de textos produzidos por alunos num projeto do Governo do Estado de Pernambuco, no ano de 1982. Dentre os textos da coletânea, um me marcou: O prédio verde. Vou contar o porquê:
O texto conta que no certo lugar havia um prédio verde, bem diferente dos prédios que conhecemos e dentro desse prédio vivia todo tipo de bicho, esse prédio, na verdade era uma árvore bem grande plantada numa praça. Nesse prédio todos se respeitavam e havia um balanço enorme onde cabiam todos de uma só vez- O Balanço da Paz.
Sempre melosa, tinha uma paixão por livros que me faziam chorar e foi na Biblioteca, onde trabalhava Dona Zenaide Magalhães, que conheci duas obras que leio até hoje e daqui a algum tempo os entregarei para minha filha mais velha ler - ela que também é uma viciada em leitura. São elas: Pollyanna Menina e Pollyanna Moça, dois clássicos da Literatura infanto-juvenil de Eleanor H. Porter, publicado em 1913.Os ensinamentos destes livros serviram para fazer de mim um ser humano melhor. Os títulos referem-se à protagonista, Pollyanna Whittier, uma jovem órfã que vai viver em Beldingsville, Vermont com sua unica tia viva, tia Polly. A filosofia de vida de Pollyanna é centrada no que ela chama "o Jogo do Contente", uma atitude otimista que ela aprendeu com o seu pai. Esse jogo consiste em encontrar algo para se estar contente, em qualquer situação por que passemos. Isso se originou com um incidente num Natal, quando Pollyanna, que estava achando que ia ganhar uma linda boneca, acabou recebendo um par de muletas. Imediatamente o pai de Pollyanna aplicou o jogo, dizendo a ela para ver somente o lado bom dos acontecimentos — nesse caso, ficar contente porque "nós não precisamos delas!"Conto isso para os meus alunos e para minhas filhas e faço o jogo do contente, acreditem!
E assim seguiram as minh leituras com Heyde, mesmo estilo de Pollyanna.
Algum tempo depois mudei de estilo,comecei a ler histórias de assombração e mistério,coleções que ainda circulam por aí, a exemplo da coleção Quem tem medo da editora Scipione.Passava a tarde inteira lendo e claro me sentia personagem das aventuras.Era muito bom, tenho saudades dessa época.
Aí veio a adolescência e com ela a fase dos romances româticos.Quem não lembra de Sabrina, Júlia, Bárbara, entre outras.Imaginava encontrar um príncipe encantado, assim como nesses romances, sonhava com o homem perfeito,ou seja,tão real quanto o colehinho da Páscoa.Mas faz parte dessa época da vida.
Essa fase passou rápido, graças ao professor de Literatura Edilson Brainner,. Falaria três páginas desse professor,ele é daqueles que marcam a vida da gente.Nas férias ele abria as portas de sua casa,digo nas férias porque ele trabalhava os três expedientes,mas mesmo sem ser férias estava sempre disponível para mostrar sua biblioteca, humilde em espaço físico, mas rica na quantidade e qualidade de obras.Foi assim que conheci Macha do de Assis,nome do meu blog.Este magnífico escritor era mencionado nas aulas de Literatura com tanta paixão que não deu outra, li tudo e tenho todas as suas obras em minha biblioteca,foi um presente da minha mãe.
Capitu e eu temos muito em comum, por isso a defendo sempre dizendo que ela não traiu e que Betinho, assim como muitos homens, não sabem lidar com mulheres bem resolvidas.Que fique claro, não sou feminista, tenho horror a radicalismos.
Outos autores me foram apresentados e lembro que as fichas de leitura elaboradas por este professor não tinham questões que imbecilizam os alunos, do tipo, quntas páginas tem o livro?, qual ano de publicação? Cite o autor e a editora e por aí vai...
Os questionamentos eram quase um diálogo entre professsor, autor e aluno, fazia-nos pensar, tomar posições,refletir....Que saudades de Edilson Brainner, queria que estivesse ainda entre nós pera ler este memorial, iria se emoicionar, tenho certeza que sim.
E durante o Ensino Médio outros livros me chamaram atenção, estava agora noutra fase. Nessa época, tinha uma disciplina chamada O.S.P.B cujo professor fingia que ensinava e os alunos fingiam que entendiam tudo de Organização Social e Política do Brasil. Infelizmente o mestre pintou de preto essa disciplina ,perdendo uma ótima oportunidade para desenvolver a criticidade dos alunos.
As leituras que me marcaram no Ensino Médio foram Incidente em Antares de Érico Veríssimo e O Mundo de Sofia.
O livroI Oncidente em Antares é dividido em duas partes, onde se misturam acontecimentos reais e irreais.
Na primeira parte, é apresentado o ajustamento das duas facções políticas da cidade (os Campolargo e os Vacariano) às oscilações da política nacional. Apresenta também a união deles em face da ameaça comunista, como é conhecida na cidade, a classe operária que reivindica seus direitos.
Na segunda parte, acontece o "incidente" do título: com a greve geral em Antares e a morte inesperada de sete pessoas, incluindo a matriarca dos Campolargo, os coveiros são impedidos de efetuar o enterro, e desta forma, aumentando-se a pressão sobre os patrões. Os mortos, não sepultados, adquirem "vida" e passam a vasculhar a vida dos parentes e amigos, revelando, então, a podridão moral da sociedade. Como as personagens são cadáveres, e portanto, livres das pressões sociais, podem criticar à vontade a sociedade.É uma obra muito bem escrita,vale a pena ler.
Já o Mundo de Sofia é um romance de Jostein Gaarder, publicado em 1991. O livro funciona tanto como novela, como um guia básico de filosofia. Também tem temas conservacionistas.
Nesta época eu fazia dois cursos: Contabilidade no turno noturno e Magistério no turno vespertino.Gostava dos dois,porém a cada bimestre se confirmava a minha vocação para lecionar.Por causa do Magistério comecei a ler livros mais técnicos, específicos para educadores,no entanto não foi possível não me encantar pelos livros de Paulo Coelho que passou a ser meu escritor favorito,depois de Machado, lógico.
Lembro-me especialmente de As Valkírias romance que mostra claramente o homem que existe por detrás do mago, e isto poderia decepcionar alguns poucos que estão em busca de “seres perfeitos”, com verdades definitivas a respeito de tudo. Mas os verdadeiros Buscadores sabem que, independente de todas as nossas falhas e defeitos, o Caminho Espiritual é mais forte. Deus é amor, generosidade e perdão.
Mais tarde, bem mais tarde, outra febre: Augusto Cury. A coleção Análise da Inteligência de Cristo com cinco livros é sensacional, não são livros de auto-ajuda, não dos que costumam dar receitas para se conquista a felicidade em dias, inclusive o autor tem obras com essa característica, porém essa coleção nos aproxima de Deus e nos torna mais sensíveis e tolerantes.
Poderia escrever uma centena de páginas relatando minhas viagens através da leitura, mas estou certa que fui fiel às que mais me marcaram.
Atualmente tenho lido livros mais filosóficos a e reflexivos, pois passei o ano de 2009, por causa do GESTAR II, lendo livros específicos da minha área, especialmente sobre lingüística. Vale salientar que foi um ano muito rico,eu aprendi muito, foi de fato um marco na minha vida profissional - trabalhar com Formação Continuada com meus colegas professores foi uma experiência sem igual.
A cabana e os livros de Mário Sérgio Cortella são destaque em 2010.
A cabana de é um livro que conta uma história de um encontro entre uma pessoa e a Trindade. O livro aborda várias questões relacionadas ao caráter de Deus Pai, Filho e Espírito Santo e traz questionamentos relacionados ao sofrimento humano, sendo a velha Cabana uma metáfora da alma humana. Não é um “livro gospel” e não é considerado de auto-ajuda, mas sim de ficção. O ponto de maior polêmica é a forma que a Trindade é apresentada.
Sem dúvida o livro leva à reflexão sobre como lidamos com o sofrimento e como nos relacionamos com Deus.
Já os livros Qual é a tua obra? E Não nascemos prontos de Cortella são filosóficos, enfatiza valores morais e éticos é ideal para educadores, pais e executivos.Tenho aprendido muito com esse autor.
Por fim, quer dizer, um Memorial de leitura é um texto sempre inacabado, porém este texto precisa ser encerrado e finalizo com uma frase de Carlos Drumonnd de Andrade, com a qual concordo, mas, como professora, tenho em minhas mãos a possibilidade de mudar esta realidade e o GESTAR II me deu a receita.
A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.
Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

GESTAR II A retomada...
Dia 27 de fevereiro de 2010
Apresentação dos Projetos
2º Encontro
19/12

A insatisfação que motiva

Guimarães Rosa já dizia:
“O animal satisfeito, dorme”.

Chegamos ao final do GESTAR II e a sensação é de insatisfação. Ao contrário do que normalmente se pensa o sentimento de insatisfação é algo infinitamente bom. Tenho medo de pessoas satisfeitas. A satisfação paralisa, entorpece,encerra,conclui,termina, estanca a vontade de alguma coisa.
Eis alguns exemplos de que a insatisfação é benéfica: quando assistimos a um bom filme e ficamos olhando o letreiro passar na verdade temos a sensação de que nova cena vai surgir; A melhor comida não é aquela que sempre dá vontade de repetir, o bom livro não é aquele que você tem pena de terminar e mesmo quando acabamos de lê-lo ficamos com ele no colo,absortos achando chato ter terminado. Foi assim com o GESTAR II, a insatisfação levou os professores a entrar em acordo para não findar os encontros/oficinas e desde já agendamos os encontros para 2010. O primeiro do ano será o Encontro de Avaliação e Apresentação dos Projetos e mais a cada encontro retomaremos o estudo das TPs com temáticas que são relevantes segundo o grupo e neste primeiro encontro a temática escolhida foi A função social da Gramática: Como trabalhar conteúdos gramaticais dentro de um contexto.

Acordos feitos, passamos para o estudo do TP6 AAA6, numa oficina de seis horas.

Comecei apresentando o slide da turma da Mônica para provocar a seguinte reflexão: O que o título dessa HQ tem a ver com o GESTAR II?

QUEM TE VIU E QUEM TV

As observações foram as seguintes:

O programa mexeu com a nossa prática pedagógica;
Com o GESTAR II mudamos nossa concepção do que é o ensino da língua;
Percebemos quão maravilhoso é o trabalho com diversos gêneros textuais;
Crescemos como pessoas e como profissionais, mudamos a maneira de ver os “erros” dos alunos e melhoramos o relacionamento na .sala de aula.

Por isso a frase, agora escrita de acordo com o nosso conhecimento prévio,quem te viu e quem te vê, tem tudo a ver com o chacoalho que o GESTAR II provocou e como tornou-se costumeiro analisamos o texto apresentado classificando-o quanto a intencionalidade, situacionalidade e intertextualidade,fazendo várias interpretações.Pois é depois do GESTAR II todo texto lido dá muito pano pra manga.

E já que estamos motivados com a leitura passamos para um texto muito reflexivo.
Lecionei a todos eles, foi o texto da vez e as reflexões foram acaloradas.

As Unidades 21 e 22 foram os nossos alvos.

Iniciei o estudo dessas unidades com a leitura de tirinhas para:
• Identificar marcas de argumentatividade na organização dos textos;
• 2- identificar e analisar diferentes tipos de argumentos que sustentam uma argumentação textual;
• 3- reconhecer a qualidade da argumentação textual.

Em seguida trabalhei com provérbios para que houvesse a percepção da construção e a qualidade da argumentação, bem como sugerir a produção textual em grupo onde poderia haver concordância ou refutação.

Escolha um provérbio e construa um texto argumentativo em que a tese seja a moral:
1. Quem tem boca vai à Roma;
2. Devagar se vai ao longe;
3. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando;
4. Antes tarde do que nunca
Quem tudo quer tudo perde.

Mesmo tendo proposto a produção escrita, esta não aconteceu, e realizamos então um debate e aí choveram argumentos a cada provérbio apresentado.

Em seguida propus a leitura do texto da página 38 e a resolução das questões de 1 a 4.

Logo em seguida socializamos as respostas e então eu apresentei alguns slides com as seguintes considerações:

Uma boa argumentação depende, primeiramente, da clareza do objetivo (da tese a comprovar); e depois, da solidariedade entre os argumentos: todos devem conduzir para o mesmo objetivo.
Como argumentar é firmar uma posição diante de um problema, um compromisso com a informação e o conhecimento, não é possível construir uma boa argumentação com argumentos fracos, falsos ou incoerentes

Ao mobilizar argumentos para sustentar uma tese, ao apresentar que idéia pretende fazer crer aos outros, o autor depende de seus pontos de vista, de seu conhecimento sobre o assunto e dos argumentos que julga mais eficazes para atingir o raciocínio e a vontade de seu interlocutor.
Com tantos fatores em jogo, uma argumentação pode não ser bem-sucedida. Assim, a cada argumento bem construído pode corresponder um argumento mal construído; o que resulta em defeitos de argumentação.
É difícil falar em defeitos de argumentação em sentido muito genérico, porque um defeito de argumentação está sempre relacionado às finalidades do texto.
Por isso, a organização dos sentidos globais do texto precisa ser levada em consideração.
Contradições em um texto podem servir de argumentos positivos em outro.
Uma argumentação é considerada inadequada ou defeituosa quando não dá condições para que os objetivos sejam atingidos.
Há várias razões para isso acontecer: podem ser razões ligadas à incompreensão, ou não-aceitação, do interlocutor; podem ser razões ligadas ao desenvolvimento do texto, ou mesmo razões relacionadas à não-correspondência entre os argumentos e o “mundo real”.
Em suma, encontramos, na escolha dos argumentos, vários níveis de adequação e vários níveis de inadequação quanto à demonstração da tese pretendida: os sentidos globais do texto e o objetivo da argumentação é que definem sua qualidade

Partindo para a Unidade 22

· Apresentar elementos de reflexão e estratégias relacionados ao planejamento de textos.
· Identificar estratégias que podem ser utilizadas para o planejamento e a escrita de textos.
· Desenvolver atividades de planejamento e escrita, considerando a construção e revisão textual.

A proposta é responder às questões de A a I das páginas 78 e 79 do TP6 a partir das leituras dos textos das páginas 76 A 78.

Após a socialização das questões, fiz a leitura do material de apoio, slides fundamentando e justificando o trabalho OFICINAS DE LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS, produzido por Aya Ribeiro.

Em seguida apresentei os objetivos da Unidade 23:

• Identificar parâmetros de avaliação e ações necessários ao desenvolvimento da etapa de revisão.
• Identificar os elementos necessários ao desenvolvimento da etapa de edição.
• Produzir atividades de revisão e de edição da escrita para seus alunos.

Atividade proposta:

Leitura do texto Sim,sou seu súdito e a partir da leitura sugerir como trabalhar com este texto na sala de aula.

Ampliar a frase, O RATO ROEU A ROUPA DO REI DE ROMA coletivamente, acrescentando classes gramaticais, atentando para o uso dos conectores

O texto ficou assim:

O rato raivoso roeu rapidamente a roupa da rainha e do rei de Roma.
A rainha Regina e o rei Raimundo reagiram revoltados, repentinamente resolveram resgatar os restos das roupas roídas e rasgadas.
Restauraram e reaproveitaram os retalhos das roupas das realezas do reino romano.
O rato refugiou-se na relva, rindo da resenha real.



E finalmente a Unidade 24

Objetivos:
• Avaliar o envolvimento do professor com o que os adolescentes leem;
• Conhecer as principais tendências na produção de uma literatura para adolescentes e critérios de seleção de obras;
• Desenvolver atividades capazes de despertar o aluno para o prazer e o valor da literatura.

E para atingir os objetivos apresentei os slides com o texto Gato,Feio, o gato.

Dei espaço para reflexões e interpretação, bem como análise dos recursos lingüísticos utilizados pela autora.

Finalizei com os trechos do livro de Aya Ribeiro JANELAS ABERTAS PARA A LEITURA:

Lembrando que uma escola que se pretende atualizada e adequada aos seus educandos não pode ignorar a necessidade de realização da autonomia do sujeito na e pela leitura, e deixar de ser apenas reprodutora de imagens e textos alheios. (Ribeiro, 2003a, p.23).


E então que a frase de Cora Coralina seja regra rígida a ser seguida por todos nós:

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina !” (Cora Coralina)


E como foi dito e apresentado por mim no último seminário Só acredito em um Programa de Formação continuada quando este,além de ampliar e aperfeiçoar o conhecimento,também e sobretudo , transforma o “ser” humano. Por isso acredito no GESTAR II, pela forma como aborda temas e conteúdos, por vezes complexos. Os textos , os questionamentos, as reflexões fazem com que cresçamos como profissional e como gente e foi valorizando esse perfil do Programa que em todas as oficinas procurei trabalhar a sensibilidade, afinal o acolhimento e a afetividades são fatores determinantes para que haja aprendizagem e foi assim que a formadora AYA RIBEIRO nos apresentou o GESTAR II, com a humildade de um sábio, com a sensibilidade de um mestre e com a dedicação de quem ama o que faz e pelo que observei até aqui os professores cursistas comungam do pensamento que abre este texto.Então porque não dizer que somos todos felizardos...


Uma mensagem final:

E tem gente que se acha...

Esse texto é um dos maravilhosos capítulos do livro Qual é a tua obra do escritor Mário Sérgio Cortella.É longo,mas vale a pena ler até o fim.

Quando se pensa e se faz o trabalho como obra poética, em vez de sofrimento contumaz, sempre vem à mente a questão do “trabalho digno” isto é, aqueles ou aquelas que se consideram superiores como seres humanos apenas porque têm um emprego socialmente valorizado.
Aliás, é sempre nesses casos que entra em cena o famoso “sabe com quem está falando?”
Um dia procurei representar uma possível resposta científica a essa arrogante pergunta, e,de forma sintética,registrei essa representação em um livro meu chamado A escola do conhecimento(Cortez);agora,de forma mais extensa e coloquial,aqui vai esse relato,partindo do nosso lugar maior,o universo,até chegar a nós.
Hoje, em física quântica, não se fala mais no universo, mas em multiverso. A suposição de que exista um único universo não tem mais lugar na Física. A ciência fala em multiverso e que estamos em um dos universos possíveis. Este tem provavelmente o formato cilíndrico, em função da curvatura do espaço, portanto, ele é finito e tem porta de saída, que são os buracos negros, por onde ele vai minando e se esvaindo.Até 2002,era quase certo que nosso universo fosse cilíndrico,hoje já há uma suspeita de que talvez não.Mas a teoria ainda não foi derrubada em sua totalidade.Supõe-se que este universo possível em que estamos apareceu há 15 bilhões de anos.Alguns falam em 13 bilhões,outros em 18,mas a hipótese menos implausível no momento é que estamos num universo que apareceu há 15 bilhões de anos,resultante de uma grande explosão,que o cientista inglês,Fred Hoyle apelidou de big-bang, e esse nome pegou.
Qual é a lógica?Há 15 bilhões de anos,é como se se pegasse uma mola e fosse apertando, apertando, apertando até o limite, e se amarrasse com uma cordinha. Imagine o que tem ali de matéria concentrada e energia retida!Supostamente, nesse período, todo o nosso universo estava em um único ponto adensado, como uma mola apertada e,então,alguém, alguma força- Deus, não sei,aqui a discussão é de outra natureza - cortou a cordinha.E aí,essa mola,o nosso universo,está em expansão até hoje. E haverá um momento em que ele chegará ao máximo da elasticidade e irá encolher outra vez.A ciência já que o encolhimento acontecerá em 12 bilhões de anos.Fique tranqüilo, até lá você já estará aposentado pelas novas regras.
Você pode cogitar algo que a Física tem como teoria:ele vai encolher e se expandir outra vez.Talvez haja uma lei em que o movimento da vida é a expansão e encolhimento.Como é o nosso pulmão,como bate o nosso coração,,com sístole e diástole.Como é o movimento do nosso sexo,que expande e encolhe,seja o masculino seja feminino.Parece que existe uma lógica nisso,que os orientais,especialmente os chineses e os indianos,capturam em suas religiões,aquela coisa do inspirar e expirar.Parece haver uma lógica nisso,a ciência tem com isso como hipótese.
Assim, há 15 bilhões de anos, houve uma grande explosão atômica, que gerou uma aceleração inacreditável de matéria e liberação de energia. Essa matéria se agregou formando o que nós, humanos,chamamos de estrelas e elas se juntaram,formando o que chamamos de galáxias (do grego galaktos,leite).A ciência calcula que existam em nosso universo aproximadamente 200 bilhões de anos de galáxias.Uma delas é a nossa, a Via Láctea,que é “leite”,em latim.Aliás,nem é uma galáxia tão grande;calcula-se que ela tenha cerca de 100 bilhões de estrelas.Portanto, estamos em uma galáxia, que é uma entre 200 bilhões de galáxias,num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
Nossa galáxia, repleta de estrelas, uma delas é o chamam de estrela-anã, o Sol. Em volta dessa estrelinha giram algumas massas planetária sem luz própria, nove ao todo,talvez oito(pela polêmica classificação em debate).A terceira delas,a partir do Sol,é a Terra. O que é Terra?
A Terra é um planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias possíveis e que vai desaparecer. Veja como nós somos importantes...
Aliás, veja como nós temos razão de nos termos considerado na história o centro do universo. Tem gente que é tão humilde que acha que Deus fez tudo só para nós existirmos aqui. Isso é que é um Deus que entende de relação custo-benefício. Tem indivíduo que acha coisa pior,que Deus fez tudo isso só para esta pessoa existir.Com o dinheiro que carrega,com a cor de pele que tem,com a escola que freqüentou,com o sotaque que usa,com a religião que pratica.
Nesse lugarzinho tem uma coisa chamada vida. A ciência calcula que em nosso planeta haja mais de trinta milhões de espécies de vida, mas até agora só classificou por volta de três milhões de espécies. Uma delas é a nossa homo sapiens. Que é uma entre três milhões de espécies já classificadas, que vive num planetinha que gira em torno de uma estrelinha, que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia, que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer?
Essa espécie tem, em 2007, aproximadamente 6,4 bilhões de indivíduos. Um deles é você.
Você é entre 6,4 bilhões de indivíduos, pertencente a uma única espécie, entre outras três milhões de espécies classificadas, que vive num planetinha,que gira em torno de uma estrelinha,que é uma entre 100 bilhões de estrelas que compõem uma galáxia,que é uma entre outras 200 bilhões de galáxias num dos universos possíveis e que vai desaparecer.
É por isso que todas as vezes na vida que alguém me pergunta:”Você sabe com quem está falando?”, eu repondo: “ Você tem tempo?”


Fantástico não é?