terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ainda na TP 4 – 08 de agosto

Pela relevância da temática desta TP continuamos o estudo da mesma. A intenção é criar um banco com estratégias de leitura e produção de textos. Assim sendo alguns textos foram escolhidos para serem lidos e interpretados ( na perspectiva de elaboração de questionamentos significativos para realização efetiva das leituras que se dá pela elaboração de perguntas bem alaboradas.)
Como estratégia de leitura os cursistas receberam fragmentos dos textos a serem trabalhados, e em seguida tiveram de procurar os fragmentos que completavam o texto, até que cada texto estivesse inteiro. Dessa maneira formaram-se os grupos.

Eis os textos

Texto 1

O dia em que eu mordi Jesus Cristo
Ruth Rocha

Eu estava numa escola onde não tinha aula de religião.
E todos os meus amigos já tinham feito a primeira comunhão, menos eu.

Então me deu uma vontade danada de fazer primeira comunhão. Eu nem sabia direito o que era isso, mas falei pra minha mãe e pro meu pai e eles acharam que até podia ser bom, que eu andava muito lavada e coisa e tal, e me arranjaram uma tal de aula de catecismo, que era na igreja.

Aí eu não gostei muito, que todo sábado de manhã, enquanto meus amigos ficavam brincando na rua, eu tinha que ir na tal aula. Eu ia, né, e aí eu arranjei uns amigos e tinha uma menina boazinha que vinha me buscar que ela também ia na aula e a gente ia pra igreja rindo de tudo que a gente via.

E na aula a gente aprendia uma porção de coisas, e tinha uma que eu achava engraçada e que era uma rezinha bem curtinha, que se chamava jaculatória. Eu achava esse nome meio feio, sei lá, me lembrava alguma coisa esquisita...

E o padre uma vez mostrou pra gente um livrão, que tinha uma figura com o inferno e uma porção de gente se danando lá dentro.

E a gente tinha que aprender a rezar a Ave-Maria e o Padre-Nosso e o Creindeuspadre.

E tinha um tal de ato de contrição, e uma tal de ladainha, que a gente morria de rir.
E aí a gente começou a aprender como é que se confessava, que tinha que dizer todos os pecados pro padre e eu perguntava pro padre o que era pecado e ele parece que nem sabia direito.

Quando eu chegava em casa e contava essas coisas, meu pai e minha mãe meio que achavam graça e eu comecei a achar que esse negócio de primeira comunhão era meio engraçado...

E aí o padre começou a explicar pra gente como era a comunhão e que a gente ia comer o corpo de Cristo, que na hora da missa aquela bolachinha chamada hóstia vira o corpo de Cristo.

Eu estava muito animada era com o meu vestido novo, que era branco e era cheio de babados e rendas, e na cabeça eu ia botar um véu, que nem a minha avó na missa, só que o meu era branco e mais parecia uma roupa de noiva.

E eu ganhei um livro de missa lindo, todo de madrepérola, e um terço que eu nem sabia usar, minha mãe disse que antigamente as pessoas rezavam terço, mas que agora não se usava mais...

E o dia da comunhão estava chegando e a minha mãe preparou um lanche, ia ter chocolate e bolo e uma porção de coisas, que a gente ia voltar bem depressa da igreja, que quem ia comungar não ia poder comer antes da missa. E era só eu que ia comungar.

E eu perguntei pra minha mãe por que é que ela nunca comungava e ela disse que um dia desses ela ia.

E eu perguntei por que é que o meu pai nunca ia na igreja e ele disse que um dia desses ele ia.

E aí chegou a véspera da minha comunhão e eu tive de ir confessar. E eu morri de medo de errar o tal ato de contrição e na hora que eu fui confessar mandaram eu ficar de um lado do confessionário, que é uma casinha com uma janelinha de grade de cada lado e um lugar de cada lado para ajoelhar, e o padre fica lá dentro.

Eu ajoelhei onde me mandaram e aí eu ouvia tudo que a menina do outro lado estava dizendo pro padre e era que ela tinha desobedecido a mãe dela e o padre mandou rezar vinte Ave-Marias.

Eu fiquei meio que achando que era pecado ouvir os pecados dos outros, mas como ninguém tinha falado nada pra mim eu fiquei quieta, e quando o padre veio pro meu lado eu fui logo falando o ato de contrição: eu pecador me confesso e o resto que vem depois.

E eu contei os meus pecados, que pra falar a verdade eu nem achava que eram pecados, mas foi assim que me ensinaram. E aí o padre disse uma coisa que eu não entendi e eu perguntei “o quê” e o padre disse "vai tirar o cera do ouvido”. E eu disse “posso ir embora?” e ele disse “vai, vai logo e reze vinte Ave-Marias”. E eu achei que ele nem tinha escutado o que eu disse e que ele que precisava tirar a cera do ouvido.

No dia seguinte eu botei o meu vestido branco e eu não comi nadinha, nem bebi água, e nem escovei os dentes, de medo de engolir uma aguinha.

E eu estava morrendo de medo, que todo mundo tinha dito que se a gente mordesse a hóstia saía sangue.

A igreja cheirava a lírio, que é um cheiro que até hoje eu acho enjoado.

As meninas e os meninos que iam fazer primeira comunhão ficavam lá na frente, nos primeiros bancos e davam pra gente uma vela pra segurar.

O padre foi rezando uma missa comprida que não acabava mais e às tantas chegou a hora da gente comungar e as meninas foram saindo dos bancos e foram indo lá pra frente e ajoelhando num degrau que tem perto de uma grade.

E o padre veio vindo com uma taça dourada na mão e ele tirava a hóstia lá de dentro e ia dando uma por uma para cada menina e menino.

Aí chegou a minha vez e abri bem a boca e fechei os olhos que nem eu vi as outras crianças fazerem e o padre botou a hóstia na minha língua. Eu não sabia o que fazer, que morder não podia e a minha boca estava sequinha e a hóstia grudou no céu da boca eu empurrava com a língua e não desgrudava e enquanto isso eu tinha que levantar e voltar pro meu lugar que já tinha gente atrás de mim querendo ajoelhar.

E eu nem aprestei atenção e tropecei no vestido da Carminha e levei o maior tombo da minha vida.

É claro que eu fiquei morrendo de vergonha e eu levantei e nem prestei atenção se eu tinha machucado o joelho. O que estava me preocupando mesmo é que eu tinha dado a maior mordida na hóstia.

Eu estava sentindo tudo que é gosto na boca, que devia de estar saindo sangue da hóstia, mas não tinha coragem de pegar pra olhar.

Aí eu pensei assim: “se eu não olhar se saiu sangue agora, nunca mais na minha vida eu vou saber se é verdade essa história”.

Aí eu meti o dedo na boca e tirei um pedaço da hóstia, meio amassado, meio molhado. E estava branquinho que nem tinha entrado.

E foi assim que eu aprendi que quando as pessoas falam pra gente coisas que parecem besteira não é pra acreditar, que tem muita gente besta neste mundo!

Texto 2

Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita
.

LEONARDO BOFF em "A Águia e a Galinha"
Texto 3


Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Os grupos então colocaram o texto em ordem ( coerência) definiram como ele seria apresentado e ensaiaram a leitura, em seguida leram no grande grupo,concluindo a apresentação com a identificação da sequência tipológica predominante, abordagem a cerca do tema numa análise reflexiva.

Ainda em grupo propus a produção de um texto com as palavras:


MUXUANGO-HERMENEUTA-VITUPERADO-DEFENESTRAÇÃO-PERFUNCTÓRIO-FALÁCIA-IGNÓBIL-SIBILINO-UXORICÍDIO-APOPLEXIA


O objetivo é brincar com a produção textual, sem apego aos significados das palavras,numa perspectiva de sair dos exemplos engessados das redações escolares.
Ai vão as produções: o resultado é sempre um barato...

Grupo 1


MUXUANGO SOFRE APOPLEXIA
O MUXUANGO HERMENEUTA VITUPERADO DE TANTA DEFENESTRAÇÃO DECIDIU RESOLVER O PROBLEMA DO PERFUNCTÓRIO SEM TANTA FALÁCIA, DE FORMA IGNÓBIL E SIBILINO. CHEGANDO FINALMENTE AO UXIRICÍDIO, FOI DIRETAMENTE A RESOLUÇÃO DA APOPLEXIA.


Grupo: Maria Célia, Micheline, Wedna Cristina, Erivânia ( Vânia para os íntimos) e Magneide.


Grupo 2


Falácia foi à farmácia comprar um pacote de apoplexia, pois estava sentindo uma leve defenestração. No caminho encontrou Muxuango que lhe contou que o filho dele ficou de castigo na escola por fazer vários perfunctórios nas colegas.
Senhor Sibilino, o diretor da escola, um hermeneuta formado, disse que a atitude do menino merecia castigo ignóbil.
Daí Falácia, dando uma de especialista em uxoricídio, disse que a culpa era das meninas por terem vituperado o filho dele.
QUE LOUCURA... ( comentário meu)


Grupo: Ana Cristina, Erivaldo, anunciada e Nielson

Grupo 3


A perda do perfunctório
( vale fazer a antecipação da leitura - comentário meu)
Certo dia houve uma grande festa na casa do Senhor Muxuango, lá no meio do mato, onde os bichos faziam vituperados barulhos. O primeiro convidado, o Sr. Sibilino,apesar da apoplexia, chegou sorridente contado suas falácias.Contou que havia encontrado um leão quando estava a caminho e que bastou um gesto ignóbil para afugentá-lo.
_ Êta cabra mentiroso! – retrucou dona Hermeneuta, achando uma defenestração tal fato.
Estavam todos dançando quando seu Sibilino deu por falta do seu perfunctório, pois não bastasse a apoplexia, fazia duas semanas que não dormia direito com um uxoricídio incomodando a região sacra.
Seu Muxuango ficou preocupado com o desconforto do convidado e tratou logo de tomar as providências: pediu ao cantor que anunciasse no microfone a perda do perfunctório do seu Sibilino e solicitou que no caso de não encontrarem, alguém pudesse emprestar. Como recompensa ofereceu um bode gordo.
Não faltou quem quisesse procurar, e como não acharam, afila para o empréstimo foi grande, cabendo a seu Sibilino escolher que perfunctório queria usar.


Grupo: Fernanda, Kátia,Elioneide, Carmelinda( Carmem para os íntimos) e Cássia.

Terminada as apresentações, o melhor momento:> conferir os significado das palavras esquisitas.
Muxuango = caipira
Hermeneuta = estudo das leis
Vituperado = mal falado
Defenestração = jogar pela janela
Perfunctório =algo superficial
Falácia = mentira
Ignóbil = desprezível
Sibilino = enigmático
Uxoricídio = ato de matar a esposa


Após muita risada, refletimos o quanto essa atividade é apropriada para o trabalho com o dicionário e consequentemente para ampliação do vocabulário.


Pela importância e pertinência temática do texto de referencia da unidade 15 pag. 147 e 148 da TP 4, realizamos a leitura e respondemos oralmente os questionamentos pag. 149 e 150.
É de fato um desafio fazer com que os nossos alunos sejam leitores e produtores de textos e se apropriem da leitura e da escrita. No entanto o próprio texto nos aponta caminhos para amenizarmos essa situação que nos angustia.


Ainda falando sobre gêneros e tipos textuais apresentei os slides sobre Intergenericidade, Heterogeneidade tipológica, Intertextualidade, Suportes, Mecanismos lingüísticos, Domínios discursivos.


Encerramos com os relatos do Avançando na Prática


O Avançando na Prática, dessa vez, foi um só, pois assim orienta a TP 4, oficina 14.
Trabalhando com o poema Cidadezinha Qualquer.
Em breve as produções de alguns alunos.

Dica de leitura:
Esse livro de Ruth Rocha é fantástico, tem histórias comuns, contadas com muito humor.É ideal para trabalhar com alunos de 5ª série.










terça-feira, 4 de agosto de 2009

Iniciando o estudo da TP 4 –
24 de julho


Sendo o tema da TP 4 Leitura e Processos de Escrita I, a oficina foi iniciada com a declamação de um belo trecho da obra de João Cabral de Melo Neto.A princípio comuniquei aos cursistas que o tema do nosso encontro seria MORTE e VIDA: uma reflexão sobre o dom da vida.Assim declamei, sem papel, vale salientar, três cenas do Poema Morte e Vida Severina.


O meu nome é Severino,
como não tenho outro da pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria.
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel,
que se chamou Zacarias,
e que foi o mais antigo senhor
desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da Serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos
já finados,Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença)
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

_ Seu José Mestre Carpina
Que diferença faria
Se ao invés de continuar
Tomasse a melhor saída
A de saltar numa noite
Fora da ponte da vida?

— Severino retirante,

deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela
é esta que vê,severina;
mas se responder não pude
a pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim
pequena a explosão,
como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

Logo em seguida apresentei em slide o texto escrito por Pedro Bial sobre a morte de Bussunda, um dos integrantes do Programa Casseta & Planeta.

A morte por Pedro Bial

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do “Casseta & Planeta”deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena.Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e a perplexidade,que é mesmo o que causa em todos os que ficam.A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada,está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório,colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer.A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente… De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway,numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste.Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério?Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo? Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.
Por isso viva tudo que há para viver.Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida…Perdoe…. Sempre!!!”

A intenção ao apresentar os dois textos era principalmente promover um momento de deleite com as leituras, evidenciando que a estratégia de ler para os alunos fazendo opção por recitar ou declamar, como foi feito com Morte e Vida Severina, incentiva e aguça a curiosidade de ler a obra completa e apresentando outro texto, pertencente a outro gênero e com a mesma temática faz com que haja identificação de intertexto.Quanto ao tema é importante aproveitar as leituras para uma reflexão sobre o dom da vida e isso fica bem claro na finalização dos dois textos: O poema é finalizado com uma resposta de José às lamentações de Severino. Ele fala que é difícil defender a vida apenas com palavras, mas a própria vida responde com sua presença (o nascimento da criança). A melhor resposta é a explosão da vida, ainda que seja uma vida Severina e o texto de Bial termina com uma sequência tipológica injuntiva:
Viva tudo que há para viver.Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida…Perdoe…. Sempre!!!”

Terminado o momento das falas reflexivas, adentramos no estudo sobre Letramento e Alfabetização, a princípio ouvindo uns aos outros sobre o que cada um entende do assunto e em seguida apresentação dos slides com abordagens da escritora Magda Soares. O tema sem dúvida é polêmico e desafiador, foi dito por todos que há uma dificuldade muito grande de se alfabetizar letrando, porém o importante, disseram os professores, é que estamos buscando meios para vencer este desafio e um dos caminhos é a participação no Programa Gestar II.

Dando continuidade partimos para os relatos do Avançando na Prática.

Para realização da oficina propriamente dita propus uma dinâmica para divisão de grupos:
Cada cursita recebeu cartõezinhos diferentes, uns com poemas, outros com nomes de poetas e poetisas, outros com perfil dos escritores dos poemas, outros ainda com nomes de escolas literárias a qual pertencia os poetas. Assim tínhamos grandes poetas e magníficas poesias, neste caso: Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade.
O desafio era agrupar poeta-obra-perfil- escola literária. Formados os grupos eis a proposta de trabalho:

Planejar uma aula com o poema Cidadezinha Qualquer

Essas são as sugestões dos grupos:

Proposta para alunos de 5ª série

1.O texto seria dramatizado com fantoches, de maneira que cada grupo apresentaria o poema com um fantoche à escolha,podendo ser um menino, um animal, uma mulher, um homem.
Alguns questionamentos seriam feitos:
a) O que você sentiu ao ler o poema?
b) Descreva a cidadezinha segundo a sua visão.
c) Em sua opinião, o que o poeta quis dizer com o último verso “ ETA vida betsa meu Deus!”

Grupo:
Maria Carmelinda, Micheline Moraes e Magneide Viana

Proposta para alunos de 7ª série

2.A turma seria dividida em grupo para realização da leitura do poema.Em seguida seriam entregues algumas questões para serem respondidas e posteriormente socializadas no grande grupo.

a) O texto retrata a vida em uma cidade pacata, sem progresso, onde todos vivem de maneira simples e rudimentar, sem nenhuma perspectiva de mudanças.De acordo com o texto,relate as possíveis dificuldades dos habitentes dessa cidade.
b) O que há de semelhante e de diferente entre a cidade em que vocês moram e a cidade do texto?
Quanto aos aspectos gramaticais seriam explorados os verbos e a função que desempenham no contexto do poema.

Quanto aos aspectos estilísticos seriam observados a forma de apresentação do texto.

As sequências tipológicas também seriam identificadas para classificação do texto quanto ao tipo.

Grupo: Rossana, Erivânia e Cristiane

Proposta para alunos de 8ª série

3.A estratégia de leitura seria um jogral, concluindo com o último verso em uníssono.

Logo em seguida os grupos responderiam por escrito as seguintes questões:

a) De acordo com o poema, como é a cidade descrita?
b) Explicitem a opinião do autor a respeito da cidade.Vocês compartilham da mesma opinião? Justifiquem.
c) Quais as semelhanças e diferenças existentes entre a cidade descrita no poema e a sua cidade?

Grupo: Fernanda Cavalcante, Kátia Jumária, Willian Demétrio e Nielson Siqueira


Finalizadas as apresentações fizemos uma breve avaliação oral da oficina.

Síntese da avaliação: A oficina trouxe sugestões inovadoras de como trabalhar de maneira dinâmica e prazerosa a leitura com nossos alunos. O Gestar tem aberto novos horizontes.

Encerrando com muito, mas muito humor...

A declamação do poema Morte e Vida Severina incentivou tanto, que o professor Nielson Siqueira resolveu encerrar a oficina declamando o poema O Cume.Só pra descontrair.Vale a pena ler e vale mais a pena ainda dar boas risadas


POEMA DO CUME

No alto daquele cume

Plantei uma roseira

O vento no cume bate

A rosa no cume cheira.

Quando cai a chuva fina

Salpicos no cume caem

Formigas no cume entram

Abelhas do cume saem.

Quanto cai a chuva grossa

A água do cume desce

O barro do cume escorre

O mato no cume cresce.

Quando cessa a chuva

No cume volta a alegria

Pois torna a brilhar de novo

O sol que no cume ardia!"

ÓTIMO TEXTO PARA TRABALHAR CACOFONIA.