terça-feira, 18 de agosto de 2009

Ainda na TP 4 – 08 de agosto

Pela relevância da temática desta TP continuamos o estudo da mesma. A intenção é criar um banco com estratégias de leitura e produção de textos. Assim sendo alguns textos foram escolhidos para serem lidos e interpretados ( na perspectiva de elaboração de questionamentos significativos para realização efetiva das leituras que se dá pela elaboração de perguntas bem alaboradas.)
Como estratégia de leitura os cursistas receberam fragmentos dos textos a serem trabalhados, e em seguida tiveram de procurar os fragmentos que completavam o texto, até que cada texto estivesse inteiro. Dessa maneira formaram-se os grupos.

Eis os textos

Texto 1

O dia em que eu mordi Jesus Cristo
Ruth Rocha

Eu estava numa escola onde não tinha aula de religião.
E todos os meus amigos já tinham feito a primeira comunhão, menos eu.

Então me deu uma vontade danada de fazer primeira comunhão. Eu nem sabia direito o que era isso, mas falei pra minha mãe e pro meu pai e eles acharam que até podia ser bom, que eu andava muito lavada e coisa e tal, e me arranjaram uma tal de aula de catecismo, que era na igreja.

Aí eu não gostei muito, que todo sábado de manhã, enquanto meus amigos ficavam brincando na rua, eu tinha que ir na tal aula. Eu ia, né, e aí eu arranjei uns amigos e tinha uma menina boazinha que vinha me buscar que ela também ia na aula e a gente ia pra igreja rindo de tudo que a gente via.

E na aula a gente aprendia uma porção de coisas, e tinha uma que eu achava engraçada e que era uma rezinha bem curtinha, que se chamava jaculatória. Eu achava esse nome meio feio, sei lá, me lembrava alguma coisa esquisita...

E o padre uma vez mostrou pra gente um livrão, que tinha uma figura com o inferno e uma porção de gente se danando lá dentro.

E a gente tinha que aprender a rezar a Ave-Maria e o Padre-Nosso e o Creindeuspadre.

E tinha um tal de ato de contrição, e uma tal de ladainha, que a gente morria de rir.
E aí a gente começou a aprender como é que se confessava, que tinha que dizer todos os pecados pro padre e eu perguntava pro padre o que era pecado e ele parece que nem sabia direito.

Quando eu chegava em casa e contava essas coisas, meu pai e minha mãe meio que achavam graça e eu comecei a achar que esse negócio de primeira comunhão era meio engraçado...

E aí o padre começou a explicar pra gente como era a comunhão e que a gente ia comer o corpo de Cristo, que na hora da missa aquela bolachinha chamada hóstia vira o corpo de Cristo.

Eu estava muito animada era com o meu vestido novo, que era branco e era cheio de babados e rendas, e na cabeça eu ia botar um véu, que nem a minha avó na missa, só que o meu era branco e mais parecia uma roupa de noiva.

E eu ganhei um livro de missa lindo, todo de madrepérola, e um terço que eu nem sabia usar, minha mãe disse que antigamente as pessoas rezavam terço, mas que agora não se usava mais...

E o dia da comunhão estava chegando e a minha mãe preparou um lanche, ia ter chocolate e bolo e uma porção de coisas, que a gente ia voltar bem depressa da igreja, que quem ia comungar não ia poder comer antes da missa. E era só eu que ia comungar.

E eu perguntei pra minha mãe por que é que ela nunca comungava e ela disse que um dia desses ela ia.

E eu perguntei por que é que o meu pai nunca ia na igreja e ele disse que um dia desses ele ia.

E aí chegou a véspera da minha comunhão e eu tive de ir confessar. E eu morri de medo de errar o tal ato de contrição e na hora que eu fui confessar mandaram eu ficar de um lado do confessionário, que é uma casinha com uma janelinha de grade de cada lado e um lugar de cada lado para ajoelhar, e o padre fica lá dentro.

Eu ajoelhei onde me mandaram e aí eu ouvia tudo que a menina do outro lado estava dizendo pro padre e era que ela tinha desobedecido a mãe dela e o padre mandou rezar vinte Ave-Marias.

Eu fiquei meio que achando que era pecado ouvir os pecados dos outros, mas como ninguém tinha falado nada pra mim eu fiquei quieta, e quando o padre veio pro meu lado eu fui logo falando o ato de contrição: eu pecador me confesso e o resto que vem depois.

E eu contei os meus pecados, que pra falar a verdade eu nem achava que eram pecados, mas foi assim que me ensinaram. E aí o padre disse uma coisa que eu não entendi e eu perguntei “o quê” e o padre disse "vai tirar o cera do ouvido”. E eu disse “posso ir embora?” e ele disse “vai, vai logo e reze vinte Ave-Marias”. E eu achei que ele nem tinha escutado o que eu disse e que ele que precisava tirar a cera do ouvido.

No dia seguinte eu botei o meu vestido branco e eu não comi nadinha, nem bebi água, e nem escovei os dentes, de medo de engolir uma aguinha.

E eu estava morrendo de medo, que todo mundo tinha dito que se a gente mordesse a hóstia saía sangue.

A igreja cheirava a lírio, que é um cheiro que até hoje eu acho enjoado.

As meninas e os meninos que iam fazer primeira comunhão ficavam lá na frente, nos primeiros bancos e davam pra gente uma vela pra segurar.

O padre foi rezando uma missa comprida que não acabava mais e às tantas chegou a hora da gente comungar e as meninas foram saindo dos bancos e foram indo lá pra frente e ajoelhando num degrau que tem perto de uma grade.

E o padre veio vindo com uma taça dourada na mão e ele tirava a hóstia lá de dentro e ia dando uma por uma para cada menina e menino.

Aí chegou a minha vez e abri bem a boca e fechei os olhos que nem eu vi as outras crianças fazerem e o padre botou a hóstia na minha língua. Eu não sabia o que fazer, que morder não podia e a minha boca estava sequinha e a hóstia grudou no céu da boca eu empurrava com a língua e não desgrudava e enquanto isso eu tinha que levantar e voltar pro meu lugar que já tinha gente atrás de mim querendo ajoelhar.

E eu nem aprestei atenção e tropecei no vestido da Carminha e levei o maior tombo da minha vida.

É claro que eu fiquei morrendo de vergonha e eu levantei e nem prestei atenção se eu tinha machucado o joelho. O que estava me preocupando mesmo é que eu tinha dado a maior mordida na hóstia.

Eu estava sentindo tudo que é gosto na boca, que devia de estar saindo sangue da hóstia, mas não tinha coragem de pegar pra olhar.

Aí eu pensei assim: “se eu não olhar se saiu sangue agora, nunca mais na minha vida eu vou saber se é verdade essa história”.

Aí eu meti o dedo na boca e tirei um pedaço da hóstia, meio amassado, meio molhado. E estava branquinho que nem tinha entrado.

E foi assim que eu aprendi que quando as pessoas falam pra gente coisas que parecem besteira não é pra acreditar, que tem muita gente besta neste mundo!

Texto 2

Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.
Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é a sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita
.

LEONARDO BOFF em "A Águia e a Galinha"
Texto 3


Soneto de Fidelidade
Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Os grupos então colocaram o texto em ordem ( coerência) definiram como ele seria apresentado e ensaiaram a leitura, em seguida leram no grande grupo,concluindo a apresentação com a identificação da sequência tipológica predominante, abordagem a cerca do tema numa análise reflexiva.

Ainda em grupo propus a produção de um texto com as palavras:


MUXUANGO-HERMENEUTA-VITUPERADO-DEFENESTRAÇÃO-PERFUNCTÓRIO-FALÁCIA-IGNÓBIL-SIBILINO-UXORICÍDIO-APOPLEXIA


O objetivo é brincar com a produção textual, sem apego aos significados das palavras,numa perspectiva de sair dos exemplos engessados das redações escolares.
Ai vão as produções: o resultado é sempre um barato...

Grupo 1


MUXUANGO SOFRE APOPLEXIA
O MUXUANGO HERMENEUTA VITUPERADO DE TANTA DEFENESTRAÇÃO DECIDIU RESOLVER O PROBLEMA DO PERFUNCTÓRIO SEM TANTA FALÁCIA, DE FORMA IGNÓBIL E SIBILINO. CHEGANDO FINALMENTE AO UXIRICÍDIO, FOI DIRETAMENTE A RESOLUÇÃO DA APOPLEXIA.


Grupo: Maria Célia, Micheline, Wedna Cristina, Erivânia ( Vânia para os íntimos) e Magneide.


Grupo 2


Falácia foi à farmácia comprar um pacote de apoplexia, pois estava sentindo uma leve defenestração. No caminho encontrou Muxuango que lhe contou que o filho dele ficou de castigo na escola por fazer vários perfunctórios nas colegas.
Senhor Sibilino, o diretor da escola, um hermeneuta formado, disse que a atitude do menino merecia castigo ignóbil.
Daí Falácia, dando uma de especialista em uxoricídio, disse que a culpa era das meninas por terem vituperado o filho dele.
QUE LOUCURA... ( comentário meu)


Grupo: Ana Cristina, Erivaldo, anunciada e Nielson

Grupo 3


A perda do perfunctório
( vale fazer a antecipação da leitura - comentário meu)
Certo dia houve uma grande festa na casa do Senhor Muxuango, lá no meio do mato, onde os bichos faziam vituperados barulhos. O primeiro convidado, o Sr. Sibilino,apesar da apoplexia, chegou sorridente contado suas falácias.Contou que havia encontrado um leão quando estava a caminho e que bastou um gesto ignóbil para afugentá-lo.
_ Êta cabra mentiroso! – retrucou dona Hermeneuta, achando uma defenestração tal fato.
Estavam todos dançando quando seu Sibilino deu por falta do seu perfunctório, pois não bastasse a apoplexia, fazia duas semanas que não dormia direito com um uxoricídio incomodando a região sacra.
Seu Muxuango ficou preocupado com o desconforto do convidado e tratou logo de tomar as providências: pediu ao cantor que anunciasse no microfone a perda do perfunctório do seu Sibilino e solicitou que no caso de não encontrarem, alguém pudesse emprestar. Como recompensa ofereceu um bode gordo.
Não faltou quem quisesse procurar, e como não acharam, afila para o empréstimo foi grande, cabendo a seu Sibilino escolher que perfunctório queria usar.


Grupo: Fernanda, Kátia,Elioneide, Carmelinda( Carmem para os íntimos) e Cássia.

Terminada as apresentações, o melhor momento:> conferir os significado das palavras esquisitas.
Muxuango = caipira
Hermeneuta = estudo das leis
Vituperado = mal falado
Defenestração = jogar pela janela
Perfunctório =algo superficial
Falácia = mentira
Ignóbil = desprezível
Sibilino = enigmático
Uxoricídio = ato de matar a esposa


Após muita risada, refletimos o quanto essa atividade é apropriada para o trabalho com o dicionário e consequentemente para ampliação do vocabulário.


Pela importância e pertinência temática do texto de referencia da unidade 15 pag. 147 e 148 da TP 4, realizamos a leitura e respondemos oralmente os questionamentos pag. 149 e 150.
É de fato um desafio fazer com que os nossos alunos sejam leitores e produtores de textos e se apropriem da leitura e da escrita. No entanto o próprio texto nos aponta caminhos para amenizarmos essa situação que nos angustia.


Ainda falando sobre gêneros e tipos textuais apresentei os slides sobre Intergenericidade, Heterogeneidade tipológica, Intertextualidade, Suportes, Mecanismos lingüísticos, Domínios discursivos.


Encerramos com os relatos do Avançando na Prática


O Avançando na Prática, dessa vez, foi um só, pois assim orienta a TP 4, oficina 14.
Trabalhando com o poema Cidadezinha Qualquer.
Em breve as produções de alguns alunos.

Dica de leitura:
Esse livro de Ruth Rocha é fantástico, tem histórias comuns, contadas com muito humor.É ideal para trabalhar com alunos de 5ª série.