quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Finalizando o TP 4 – 22/08

Um jeito novo de ler Drummond

Na Escola Éster Siqueira de Souza, onde os alunos não têm muita sede de leitura( como na maioria das escolas), ainda mais se essa leitura se tratar de textos literários, uma maneira dinâmica de ler poemas fez a diferença.
Ao trabalhar o poema Cidadezinha Qualquer de Carlos Drummond de Andrade a professora Carmelinda deu uma mexida nos alunos,explorou tão bem o texto que os alunos resolveram dramatizar e o que é melhor confeccionar o cenário e apresentar para outras turmas.
Já na Escola Manuel Rodrigues Arcoverde, a profesora Micheline propôs um recital e não é que os alunos declamaram,sem papel!!!
Emocionada Micheline exclamou:
_Meu Deus, meus alunos estão lendo Drummond!!!
Foi com esses relatos do Avançando na Prática que demos início ao 6º Encontro, quando finalizaríamos o TP 4. ( Esse TP deu pano pra manga)
Alguns registros da dramatização na Escola Ester Siqueira de Souza.

Após os relatos iniciamos o estudo da Unidade 16 lendo os objetivos das sessões:
1. Identificar crenças e teorias que subjazem às práticas de ensino da escrita;
2. Relacionar as práticas comunicativas com o desenvolvimento e o ensino da escrita como processo;
3. Identificar dimensões das situações sociocomunicativas que auxiliam no planejamento e na avaliação de atividades de escrita

Em seguida propus a leitura do texto Minhas não-férias objetivando uma reflexão sobre as aulas de redação e indagando se há diferença entre redação e produção textual.Foi uma boa conversa, com muitos desabafos, posso dizer assim, uma vez que há uma dificuldade muito grande em se trabalhar a produção de textos de forma significativa.É interessante perceber como os cursos de graduação ( e pós-graduação) não trabalham efetivamente com a escritura e (re)escritura de textos e ainda como os professores desejam se apropriar do assunto para que os alunos vejam sentido em produzir textos e para corrigirem, sem com isso desmotivá-los,mas sim fazê-los aperfeiçoar a escrita.

"Escrever para mim só tem sentido quando alguém lê o que escrevo. Um texto só se torna texto quando chega do outro lado, quando atinge o leitor e faz com que ele se sinta identificado com as palavras."
Clarice Casado

A partir dessa frase de Clarice Casado, autora do texto Minhas não-férias, que discutimos sobre ALGUMAS CRENÇAS SOBRE O DESENVOLVIMENTO EO ENSINO DA ESCRITA.

A metodologia para dinamizar a discussão foi a divisão da turma em 4 grupos que iriam refletir e expor no grande grupo as observações e considerações sobre cada crença ou teoria abordada.

 A escrita é uma transcrição da fala;
 Só se escreve utilizando a norma padrão;
 Todo bom leitor é bom um escritor;
 Na escola escreve-se para produzir textos narrativos, descritos e dissertativos;

Finalizadas as discussões, que demoraram mais do que o previsto e eu considero esse extrapolar o tempo um ótimo sinal, pois é na troca de experiências que o grupo cresce e assim, quantos equívocos e mitos sobre a escrita foram exterminados e ainda quantas considerações relevantes foram feitas. Dentre elas:

A leitura e a escrita só serão significativas se fizerem sentido, disse a professora Célia ao relatar que precisou mudar o plano de aula por causa de um buraco que surgiu no caminho da escola, era o assunto do dia. Assim ela aproveitou e explorou o tal “buraco” pedindo que descrevessem, dessem uma solução para o problema, identificassem o responsável pela solução do problema. Foi uma aula proveitosa, completou ela.

Ainda sobre as crenças e teorias, refletimos sobre o dom (será que ele existe???) As opiniões divergem, mas o TP esclarece quando resume afirmando que “há pesquisas em andamento sobre o desenvolvimento de altas habilidades, mas o de que se tem certeza é que mesmo aqueles que apresentam facilidade na escrita e aqueles que se tornaram poetas, escritores, jornalistas, entre outras profissões que poderíamos citar, têm que trabalhar muito, entender seus objetivos, pesquisar sobre o tema que estão tratando, assim como sobre o gênero e outros elementos da situação sociocomunicativa e que para desenvolver a escrita precisamos ensiná-la e praticá-la.
Comentários feitos, passamos para a leitura do texto A redação e o dicionário de Lygia Bojunga Nunes.Esse texto nos fez refletir sobre o uso, muitas vezes equivocado, do dicionário e o quanto é importante saber utilizá-lo e que para isso é preciso ter objetivos claros e PLANEJAR, do contrário, a pesquisa não faz sentido e é aí que entra a Semântica.

É fundamental que os alunos compreendam que as palavras podem possuir mais de um significado e que é o contexto que vai determinar qual é o significado mais apropriado.
A redação e o dicionário
Lygia Bojunga Nunes

Se você fosse morar numa ilha deserta e distante e só poderia levar um livro pra ler
por lá, que livro você levaria?
Quando chegou a minha vez de responder a essa pergunta eu disse que, mesmo
não gostando de carregar peso em viagem, eu levava um dicionário da minha língua.
Mas eu só senti o gosto do dicionário quando eu comecei a escrever livro. E assim
mesmo, foi um gosto que veio vindo devagar.
Eu tive uma professora de português que achava impossível a gente viver sem um
dicionário perto. Eu não gostava da professora; ela tinha unha cumprida e pintada de um
vermelho meio roxo, quando ela escrevia no quadro volta e meia a unha raspava a
pedra. Que aflição! Mas não era por isso que eu não gostava dela não: eu tinha dois
motivos muito mais emocionais que a unha. O primeiro é que eu achava que ela tinha
tomado o lugar da professora anterior, que eu adorava; o segundo é que ela corrigia
timtim por timtim tudo que é redação que eu fazia. Usando caneta. E, pelo jeito, eu
cometia tanta barbaridade gramatical, que ela se via obrigada a reescrever a minha
redação quase que todinha. Com tinta vermelha.
Quando eu relia a minha escrita, assim toda avermelhada para um português
correto, eu sempre sentia a impressão esquisita que a minha redação tava fazendo careta
pra mim.
Mas eu nunca parei pra pensar por que eu sentia assim. Me lembro que eu ficava
chateada e pronto: esquecia a careta. E quando eu tinha de novo que fazer redação eu
me aplicava igualzinho: redação era o único dever que gostava de fazer.
A professora corrigia tintim por tintim outra vez. E a nota que ela me dava ficava
sempre em torno do 5. Ela justificava a dádiva com a seguinte observação: composição
imaginativa. Embaixo do FIM que eu botava sempre no fim da minha redação, ela
escrevia um lembrete (vermelho também):
“Habitue-se a consultar o dicionário.”
Não deu outra: me habituei a nunca abrir um dicionário.
[…]

E vem mais texto...

A proposta seguinte foi formar um grande círculo para realização da dinâmica da BOMBA.
Cada membro do grupo recebeu o texto “Chapeuzinho Vermelho de raiva” de Mário Prata.É um ótimo texto para trabalhar intertextualidade e temas como meio ambiente, industrialização e saúde, relacionamento entre avós e netos nos tempos passados e atualmente,cultura e ainda alguns aspectos gramaticais como diminutivos e aumentativos ( numa perspectiva de compreensão do valor semântico das palavras no grau diminutivo, que nem sempre indicam tamanho e sim grau de afetividade, como na palavra “netinha” e ainda ironia, como por exemplo na palavra “queridinha”,não mais dando uma lista de palavras para serem colocadas no diminutivo ou aumentativo, isso nossos alunos já sabem,não é mesmo?)


E a BOMBA? A bomba era um livro, que por sinal eu recomendo, cujo título é LEITURA E (RE)ESCRITURA DE TEXTOS subsídios teóricos e práticos para o seu ensino , da autora Maria Luci de Mesquita Prestes – Editora Respel.Esse livro tem ótimas sugestões e abordagens sobre produção textual.

Então... A bomba, digo o livro ia passando ao som da música cantada por nós:

“Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau
Pego as criancinhas pra fazer mingau.”

Só para lembrar da historinha de Chapeuzinho Vermelho da nossa época.
Quem estivesse com a bomba nas mãos quando chegasse na palavra mingau iria tirar de um saco uma pergunta sobre o texto e responder.

Eis o texto e logo em seguida as perguntas.

Chapeuzinho vermelho de raiva
Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais pertinho da vovó, fica.
- Mas vovó, que olho vermelho... E grandão... Que que houve?

- Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. Aliás, está queimada, heim?

- Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leva a mal, não, mas a senhora está com um nariz tão grande, mas tão grande! Ta tão esquisito, vovó.

- Ora, Chapéu, é a poluição. Desde que começou a industrialização do bosque que é um Deus nos acuda. Fico o dia todo respirando este ar horrível. Chegue mais perto, minha netinha, chegue.

- Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos chego aqui com a minha moto.

- Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme?

- Puxa, já ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora. Olha aí: margarina, Helmmans, Danone de frutas e até uns pacotinhos de Knorr, mas é para a senhora comer um só por dia, viu? Lembra da indigestão do carnaval?

- Se lembro, se lembro...

- Vovó, sem querer ser chata.

-Ora, diga.

- As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E ainda por cima, peluda. Credo, vovó!

- Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. Onde já se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me desculpe porque foi você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que diz, não é? Pois é; estas guitarras são muito barulhentas. Não há ouvido que aguente, minha filha. Música é a do meu tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô, dançando valsas... Ah, esta juventude está perdida mesmo.

- Por falar em juventude o cabelo da senhora está um barato, hein? Todo desfiado, pra cima, encaracolado. Que qué isso?

- Também tenho que entrar na moda, não é, minha filha? Ou você queria que eu fosse domingo ao programa do Chacrinha de coque e com vestido preto com bolinhas brancas?

Chapeuzinho pula para trás:

- E esta boca imensa???!!!

A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava:

- Escuta aqui, queridinha: você veio aqui hoje para me criticar é?!

Mario Prata


As perguntas...

O que é desenvolver uma leitura com construção de sentidos?

Que pergunta(s) você faria aos seus alunos para o trabalho implícito do texto( inferências)?

O texto amplia a visão de mundo do aluno? Em que momento?

Após a exploração do texto, é possível fazer os alunos compreenderem uma cultura que talvez não seja a deles?

Que perguntas poderiam ser feitas para a percepção da intertextualidade?

Como desenvolver a criticidade dos alunos diante do contexto do texto?

Depois da leitura, interpretação e compreensão de texto que atividade de criação de um texto seria interessante?

No texto aparecem vários diminutivos. Como você trabalharia o grau do substantivo usando este texto?
Você considera esse trabalho como gramática contextualizada?

No texto há marcas de oralidade? Cite-as.

Como você trabalharia esse aspecto com os alunos com a finalidade de aperfeiçoar a língua?
Finalizada a dinâmica apresentei os slides sobre a decadência da música brasileira para que pudéssemos entender as mudanças, neste caso maléficas, na maneira de se expressar sentimentos e lidar com relacionamentos,pegando a deixa do texto lido anteriormente quando mostrava o relacionamento e a maneira de pensar da avó e da neta, especialmente quando a avó lembra das músicas de quando ela era jovem.

E pra descontrair nada melhor que Chico Bento.

Entreguei para os professores um texto muito engraçado: Chico Bento em “Os pés” - infelizmente não tenho essa HQ no meu computador e nem achei na internet, mas é mais ou menos assim:

A professora de Chico pede que a turma faça uma redação com um tema Hospedagem e Chico resolve então ler a produção dele para a turma, o que surpreende a todos.
E ele começa:

Os pé da gente
Os pé da gente são a parte do corpo qui serve pra andá i fazê a curva!
Quem tem dois pé é bípede,quem tem um é saci e quem tem mais di dois precisa di médico!Isto é se num for animar Ne?
Na natureza inziste vários tipo de pé!
Pé di fruta, pé di vento,pé d’água.
De todos os pé que inziste tem um que eu adoro:
É o pé-de-moleque im compensação o pior qui conheço é o pé no ouvido....

E por aí vai... Imaginem a cara da professora e a nota que o Chico ganhou.

O texto serviu para que, claro déssemos boas risadas, mas também para refletirmos sobre a didática da professora que deu ZERO a Chico, uma vez que ele entendeu Os pé da gente e não hospedagem, isso mostra que Chico não conhecia a palavra HOSPEDAGEM e para justificar a produção afirmou que a professora havia errado ao escrever no quadro, dizendo que ela esqueceu a sílaba TE e ainda escreveu tudo emendado, aí ele completou “Hospedagente” e elaborou o texto falando de tudo quanto era pé.

Foi unânime a opinião de que Chico não merecia ZERO, pois o tema “os pés”, como havia entendido tinha sido bem explorado e que a postura da professora foi lamentável, ela deveria ter valorizado a produção e depois fazer as observações sobre o tema pedido por ela.

É uma pena, mas ainda temos muitos professores iguais a de Chico...

Em breve foto da turma com a camisa do GESTAR II e depoimentos sobre como tem sido o trabalho nas turmas laboratório.

P.S. Vou tentar scanear o texto de Chico Bento e colocá-lo no blog do GESTAR PE, vale a pena fazer um trabalho com ele.