quinta-feira, 24 de setembro de 2009




A Educação é um processo social,é desenvolvimento,não é a preparação para a vida, é a própria vida.
John Dewey
Um dia de muito estudo- Oficina de oito horas
09 de setembro

Abertura : Abraço Mineiro
Exibição do vídeo: O saber e o sabor – reflexão e comentários
Iniciando o estudo do TP 5 Unidade 17
• Leitura da página 13 e 14 - TP 5
• Leitura dos Objetivos da Unidade
• Fazendo uma análise estilística da canção Valsinha- Chico Buarque
• Intervalo
• Uma abordagem sobre paradigma e sintagma
• Trabalho coletivo – Traduzir-se – Ferreira Gullar
• ALMOÇO
• Dinâmica – uma lembrança entregue com estilo
• Trabalho em grupo Analise estilística com socialização: Música Amor e Sexo Rita Lee/Roberto de Carvalho/Arnaldo Jabor
• O Projeto
• O Portfólio
• Tarefa de casa ( Avançando na Prática)
Com a leitura da Unidade 17 do TP 5 ficou claro que fazer uma análise estilística de um texto vai muito além de dividir as sílabas poéticas, trabalhar rimas, versos e estrofes.
A música de Chico Buarque Valsinha foi o texto trabalhado, com o objetivo de reconhecer os aspectos estilísticos:

VALSINHA
De: Vinícius – Chico Buarque

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar
Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado, cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se ousava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanto felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouviam mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz

Primeiro fiz comentários sobre a memória discursiva.
Valsinha, uma canção de Chico Buarque de Holanda dedicada a um movimento social dos anos 70 denominado hippie, pregava a liberdade de ação do indivíduo. Essa prática levava as pessoas a agirem livremente e sem preconceito no período de repressão do Governo Militar.Normalmente, seus seguidores viviam em grupos, preconizavam o amor,aboliam a discriminação racial e faziam sexo livremente, isento de condenação. A alusão que Chico faz ao movimento é figurada na performance de um casal que, “um dia“, muda a sua conduta e toma outro rumo na vida. A homenagem a esse evento de vanguarda retrata metaforicamente o lirismo vivido por seus integrantes como artifício para fugir da censura política. A Estrutura do texto também foi discutida e assim fomos cada vez nos aprofundando na leitura :Valsinha é estilisticamente um poema. Além de sua estrutura poética,possui a narrativa, o que faz dela um mini conto, pois possui um só núcleo. Sua narração começa em um momento qualquer (um dia) e as ações são introduzidas seqüencialmente até chegar a um fim esperado.Por isso, a narração é heterodiegética, centrada no narrador. Com o foco narrativo na 3.ª pessoa, o narrador vê tudo à distância e conduz o fato sem interferir na história. Assim, o ele controla todo o saber, sem limitações de profundidade externa ou interna, em todos os lugares ou em todos os tempos. Em resumo, o texto é narrado por um narrador onisciente. Quanto aos Marcadores da narrativa e da oralidade, O texto apresenta conjunções como marcadores da oralidade, nas quais o narrador apóia-se para ustentar sua narrativa. Ex. e..., e..., pra...,depois..., então...Como marcadores da narrativa destacam-se o tempo (um dia, muito tempo), o espaço (num canto, praça, cidade, o mundo) e os verbos que cumprem sua função nas modalidades de pretérito perfeito e Imperfeito: “Chegou...”, “diferente...”, Olhou-a ...”, “costumava ...”, “maldisse...”
Esse foi o aspecto que mais demoramos na reflexão, uma vez que percebemos o quanto é prazeroso e significativo trabalhar a gramática de forma contextualizada. Em seguida verificamos a instância lexical e identificamos as palavras mais sedutoras: “quente..., bonita..., decotado..., ternura...,beijos loucos”,Palavras mais próximas semanticamente: “A guardado... esperar;Há... muito tempo; ternura... graça; despertou... iluminou; gritos...ouvir; compreensão... paz; maldisse... falar; só... canto; bonita... ousar;tanto... tantos; dança... rodar.”Palavras mais distantes semanticamente: chegou... foram;maldisse... paz; diferente... sempre; só... abraçar.Por conta do entendimento semântico de Valsinha, que retrata uma ação diferente do passado e nos remete à idéia de aproximação, há poucas palavras que se contrapõem no sentido de distanciamento.Indo ainda mais longe, ampliamos o conhecimento quanto ao eixo paradigmático da canção.
Do ponto de vista sintático, destacamos os sujeitos presentes na
canção (SN – sintagma nominal) e seus respectivos predicados (SV –
sintagma verbal). Na primeira fase da apresentação o SN é o pronome
definido ELE. Na segunda, ELA. Finalmente OS DOIS. Há, também, outros
SN que são introduzidos no enredo e fazem parte do contexto, sem
importância central. São eles: Toda a Cidade...; A vizinhança...; Beijos
loucos...; Gritos roucos...; O mundo...; O dia.
Mas o eixo paradigmático da canção é marcado pelo SV, mais
notadamente com a presença dos verbos terminados em AR, como por
exemplo: “chegar...; Olhar...; Rodar; Ousar etc.

E finalmente falamos sobre Métrica
Tomando como exemplo os quatro últimos versos, podemos escandi-los e
dar nomes aos metros da seguinte forma:

1 2 3 4 5 6 7 Definição
tan tos gri tos rou cos Redondilha menor
co mo não Se o u vi a mais redondilha maior
que o mun do com preen deu hexassílabos
e o di a a ma nhe Céu em paz Redondilha maior

Explorando ainda mais identificamos as Metáforas;
A canção é inteiramente metaforizada. Algumas metáforas mais
expressivas podem ser destacadas facilmente na canção.
Metáfora Sentido semântico
Vestido decotado =Camisola.
Cheio de ternura =Cheio de desejos, volúpia.
Foram para a praça= Foram para a cama.
Só num canto =Abandonada.
Pra rodar =Fazer amor.
Cheirando a guardado= Engavetado.
Dançaram tanta dança= Fizeram muito sexo – Jogo do amor.
O mundo compreendeu= A felicidade é transparente.

Falamos também sobre o Jogo das pressuposições, tão importante para compreensão do texto,Tomando como exemplo o seguinte verso: “um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar”. Por esse verso pressupõese
que antes do movimento hippie os sentimentos femininos em relação à liberdade sexual eram mais reprimidos. A manifestação de desejos e emoções em relação à vida sexual não se dava de maneira explícita. Com o seu surgimento, as relações humanas sofreram uma mudança brusca de comportamento, principalmente afetivo. A partir daí, os sentimentos e desejos são mais encorajados pelo prazer, sem censura, sem repressão
ou sem estado de culpa. A liberdade nele presente permitiu transformar
sentimentos que antes eram introspectivos e ocultos em demonstrações mais eróticas.
E por último a questão da rima.
As rimas de Valsinha parecem ser simples, tendo a presença dos verbos
terminados em “AR” na primeira estrofe de cada verso. A segunda estrofe
não apresenta a mesma simetria da primeira, variando a terminação sem
preocupação com a rima. Mas, nem por isso não podemos afirmar que as
rimas que se apresentam na canção não são muito sofisticadas. Elas
existem certamente em diversas instâncias, principalmente em um
recurso raramente encontrado em cançõs: são as rimas toantes internas.
A seguir, destacamos alguns pares dessas rimas:
Canto Grande
Sempre Tempo
Quanto Espanto
Loucos Roucos
Com convidou-a

Conclusão do ponto de vista estilístico.
Valsinha é uma canção que pode ser considerada como um mini
conto. Sua história ocorre no pretérito, em um momento qualquer, e
chega a um tempo indeterminado com a exibição de uma sensível
mudança de estado. Para consolidar as ações e estabelecer marcas que
determinam seu intento, o eu-lírico narra na 3.ª pessoa, com verbos
enfáticos que consagram um gesto pragmático no tempo. Para isso, esses
sintagmas verbais se apresentam, quase que sempre, com as desinências
temporais nos pretéritos perfeito e imperfeito. Assim, “um dia” ele
“chegou”, “olhou” e convidou”. Chegou de maneira diferente do usual,
mudando o estado em que se encontrava, pois “costumava” agir de uma
maneira e passa por uma transformação, a ponto de externar seus
sentimentos incutidos e sufocados em “gritos roucos”, como não se
“ouviam” mais.
Para provocar a idéia de valsar, o autor vale-se de repetições como
“tanta dança”, “tanta felicidade”, “tantos beijos”, “tantos gritos”, criando
uma mistura de significados que provocam um verdadeiro “rodopio” na
percepção do leitor, até atingir seu intento. Outro importante detalhe a
ser observado é que os versos começam organizados e longos e, à
medida que o enredo vai tomando seu curso final, eles se encolhem e
incorporam elementos que nos remetem à idéia de estreitamento e
movimentos circulares, como se quisessem simular os movimentos de
uma valsa.
Seus recursos estilísticos são vastos. Do ponto de vista lexical, o
autor usa palavras que se assemelham, cujos pares residem na mesma
raiz, na tentativa de provocar o mesmo significado. Nesse sentido,
podemos dizer que Valsinha é a mais pura poesia, pois as palavras vão e
vêm provocando fortes sentimentos na sua interpretação.
Morfologicamente, as raízes das palavras também se fazem presentes,
mas com o uso de categorias diferentes dos verbetes. É o caso do verbo
“dançar” e do substantivo “dança”. Na relação morfossintática,
observamos que o grande paradigma fica por conta do sintagma verbal,
que ricamente se alterna em diversas situações. Nesse sentido, o
sintagma nominal ganha outras formas e age de maneiras diferentes,
destacando-se em importância no enredo. Os verbos se apresentam com
rigor e firmeza. Suas ações são decisivas. Às vezes eles mudam de
estado, passando de pretérito perfeito para imperfeito, para provocar
uma idéia de continuidade. É o caso de “costumava”.
Não é só na rica estrutura estilística que o poema é admirado. Do
ponto de vista semântico, Valsinha provoca uma grande surpresa. Com
metáforas ricas e invariavelmente “in absentia” (ausente), como podemos
observar em “seu vestido decotado”, o sentido figurado de suas
metáforas consolida-se em uma metáfora maior que enaltece o
movimento hippie da década de 70, em pleno regime de ditadura militar.
Esse movimento social não se sujeitava às imposições retraídas da
sociedade de então, permitindo a expressão de liberdade dos seus
seguidores, os quais usualmente viviam em grupos, preconizavam o
amor, aboliam a discriminação racial e faziam sexo livremente. Valsinha
exalta a liberdade dos integrantes desse movimento e a ousadia das
manifestações nas suas relações afetivas, até então reprimidas e
sufocadas na sociedade. A grande surpresa da canção fica por conta de
seu sentido metafórico. A idéia concebida de que se refere a um casal
apaixonado, deixa de ser tão importante para valorizar-se em uma
dimensão maior: a do engajamento social. Seu sentido é muito mais
global e universal, pois faz alusão a um movimento de caráter
revolucionário que ousou desafiar a sociedade tradicional da época e
contestar os valores e os padrões de seus regimes dominantes.

Os professores gostaram muito dessa releitura da música, muitos já a conheciam,mas nunca tinham parado para analisá-la.As discussões seguiram a cerca de como uma leitura bem planejada amplia a visão de mundo dos alunos.

Como proposta de trabalho a turma foi dividida em grupos para análise dos mesmos aspectos trabalhados em Valsinha, só que agora com a música Amor e sexo de Rita Lee,( percebe-se que o tema da oficina girava em torno do sexo, foi proposital, pois em conversas com os cursistas surgiu a necessidade de abordar esse tema em sala de aula,principalmente no turno noturno e levando-se em consideração o fato de os professores ainda não se sentirem à vontade para desenvolver essa temática )

Como a música tem uma melodia gostosa a leitura transcorre sem muito esforço.

Amor e Sexo
Rita Lee

Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...
Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema..
Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...
O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Uh!
Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...
Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...
Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois...
Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...
Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão
Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval
Oh! Oh! Oh!
Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!
Uh! Uh! Uh!
Ai o amor!
Hum! O sexo!

A socialização dos trabalhos foram fantásticos e daí surgiram sugestões de outros textos para trabalhar com os alunos, da mesma maneira que trabalhamos na oficina.Ficou acordado então que faríamos um banco de textos com a contribuição de todos.
“Com o GESTAR o sabor da leitura parece ter vindo pra ficar” esse é um depoimento da professora Rossana.

Demos uma paradinha para um delicioso almoço, um breve intervalo e logo voltamos.

Como após o almoço dá certa moleza,era hora da surpresa: Cada professor recebeu uma camisa do GESTAR, mas na embalagem, o nome estava trocado e assim, já que estávamos falando de ESTILO, cada um a seu estilo iria entregar a camisa.Teve declarações de amizade,elogios,definição de característica, enfim , foi divertido.
Tenho tido o cuidado de trabalhar a formação de modo que as pessoas se sintam reconhecidas, valorizadas, afinal um curso de formação continuada se não fizer a gente crescer enquanto ser humano, deixa uma lacuna.