terça-feira, 4 de agosto de 2009

Iniciando o estudo da TP 4 –
24 de julho


Sendo o tema da TP 4 Leitura e Processos de Escrita I, a oficina foi iniciada com a declamação de um belo trecho da obra de João Cabral de Melo Neto.A princípio comuniquei aos cursistas que o tema do nosso encontro seria MORTE e VIDA: uma reflexão sobre o dom da vida.Assim declamei, sem papel, vale salientar, três cenas do Poema Morte e Vida Severina.


O meu nome é Severino,
como não tenho outro da pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria.
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel,
que se chamou Zacarias,
e que foi o mais antigo senhor
desta sesmaria.
Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da Serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos
já finados,Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença)
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

_ Seu José Mestre Carpina
Que diferença faria
Se ao invés de continuar
Tomasse a melhor saída
A de saltar numa noite
Fora da ponte da vida?

— Severino retirante,

deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela
é esta que vê,severina;
mas se responder não pude
a pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim
pequena a explosão,
como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina.

Logo em seguida apresentei em slide o texto escrito por Pedro Bial sobre a morte de Bussunda, um dos integrantes do Programa Casseta & Planeta.

A morte por Pedro Bial

Assisti a algumas imagens do velório do Bussunda, quando os colegas do “Casseta & Planeta”deram seus depoimentos. Parecia que a qualquer instante iria estourar uma piada. Estava tudo sério demais, faltava a esculhambação, a zombaria, a desestruturação da cena.Mas nada acontecia ali de risível, era só dor e a perplexidade,que é mesmo o que causa em todos os que ficam.A verdade é que não havia nada a acrescentar no roteiro: a morte, por si só, é uma piada pronta. Morrer é ridículo. Você combinou de jantar com a namorada,está em pleno tratamento dentário, tem planos pra semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório,colocar gasolina no carro e no meio da tarde morre. Como assim? E os e-mails que você ainda não abriu, o livro que ficou pela metade, o telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?Não sei de onde tiraram esta idéia: morrer.A troco? Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviriam pra nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente. Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego, mas não desistiu. Passou madrugadas sem dormir para estudar pro vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida, mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente… De uma hora pra outra, tudo isso termina numa colisão na freeway,numa artéria entupida, num disparo feito por um delinqüente que gostou do seu tênis. Qual é? Morrer é um chiste.Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida. Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas. Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas, a apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira. Logo você, que sempre dizia: das minhas coisas cuido eu. Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer. Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã. Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito. Isso é para ser levado a sério?Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo. Já não há mesmo muito a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas. Ok, hora de descansar em paz. Mas antes de viver tudo? Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas. Morrer é um exagero. E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas. Só que esta não tem graça.
Por isso viva tudo que há para viver.Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida…Perdoe…. Sempre!!!”

A intenção ao apresentar os dois textos era principalmente promover um momento de deleite com as leituras, evidenciando que a estratégia de ler para os alunos fazendo opção por recitar ou declamar, como foi feito com Morte e Vida Severina, incentiva e aguça a curiosidade de ler a obra completa e apresentando outro texto, pertencente a outro gênero e com a mesma temática faz com que haja identificação de intertexto.Quanto ao tema é importante aproveitar as leituras para uma reflexão sobre o dom da vida e isso fica bem claro na finalização dos dois textos: O poema é finalizado com uma resposta de José às lamentações de Severino. Ele fala que é difícil defender a vida apenas com palavras, mas a própria vida responde com sua presença (o nascimento da criança). A melhor resposta é a explosão da vida, ainda que seja uma vida Severina e o texto de Bial termina com uma sequência tipológica injuntiva:
Viva tudo que há para viver.Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da Vida…Perdoe…. Sempre!!!”

Terminado o momento das falas reflexivas, adentramos no estudo sobre Letramento e Alfabetização, a princípio ouvindo uns aos outros sobre o que cada um entende do assunto e em seguida apresentação dos slides com abordagens da escritora Magda Soares. O tema sem dúvida é polêmico e desafiador, foi dito por todos que há uma dificuldade muito grande de se alfabetizar letrando, porém o importante, disseram os professores, é que estamos buscando meios para vencer este desafio e um dos caminhos é a participação no Programa Gestar II.

Dando continuidade partimos para os relatos do Avançando na Prática.

Para realização da oficina propriamente dita propus uma dinâmica para divisão de grupos:
Cada cursita recebeu cartõezinhos diferentes, uns com poemas, outros com nomes de poetas e poetisas, outros com perfil dos escritores dos poemas, outros ainda com nomes de escolas literárias a qual pertencia os poetas. Assim tínhamos grandes poetas e magníficas poesias, neste caso: Vinicius de Moraes, João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles e Carlos Drummond de Andrade.
O desafio era agrupar poeta-obra-perfil- escola literária. Formados os grupos eis a proposta de trabalho:

Planejar uma aula com o poema Cidadezinha Qualquer

Essas são as sugestões dos grupos:

Proposta para alunos de 5ª série

1.O texto seria dramatizado com fantoches, de maneira que cada grupo apresentaria o poema com um fantoche à escolha,podendo ser um menino, um animal, uma mulher, um homem.
Alguns questionamentos seriam feitos:
a) O que você sentiu ao ler o poema?
b) Descreva a cidadezinha segundo a sua visão.
c) Em sua opinião, o que o poeta quis dizer com o último verso “ ETA vida betsa meu Deus!”

Grupo:
Maria Carmelinda, Micheline Moraes e Magneide Viana

Proposta para alunos de 7ª série

2.A turma seria dividida em grupo para realização da leitura do poema.Em seguida seriam entregues algumas questões para serem respondidas e posteriormente socializadas no grande grupo.

a) O texto retrata a vida em uma cidade pacata, sem progresso, onde todos vivem de maneira simples e rudimentar, sem nenhuma perspectiva de mudanças.De acordo com o texto,relate as possíveis dificuldades dos habitentes dessa cidade.
b) O que há de semelhante e de diferente entre a cidade em que vocês moram e a cidade do texto?
Quanto aos aspectos gramaticais seriam explorados os verbos e a função que desempenham no contexto do poema.

Quanto aos aspectos estilísticos seriam observados a forma de apresentação do texto.

As sequências tipológicas também seriam identificadas para classificação do texto quanto ao tipo.

Grupo: Rossana, Erivânia e Cristiane

Proposta para alunos de 8ª série

3.A estratégia de leitura seria um jogral, concluindo com o último verso em uníssono.

Logo em seguida os grupos responderiam por escrito as seguintes questões:

a) De acordo com o poema, como é a cidade descrita?
b) Explicitem a opinião do autor a respeito da cidade.Vocês compartilham da mesma opinião? Justifiquem.
c) Quais as semelhanças e diferenças existentes entre a cidade descrita no poema e a sua cidade?

Grupo: Fernanda Cavalcante, Kátia Jumária, Willian Demétrio e Nielson Siqueira


Finalizadas as apresentações fizemos uma breve avaliação oral da oficina.

Síntese da avaliação: A oficina trouxe sugestões inovadoras de como trabalhar de maneira dinâmica e prazerosa a leitura com nossos alunos. O Gestar tem aberto novos horizontes.

Encerrando com muito, mas muito humor...

A declamação do poema Morte e Vida Severina incentivou tanto, que o professor Nielson Siqueira resolveu encerrar a oficina declamando o poema O Cume.Só pra descontrair.Vale a pena ler e vale mais a pena ainda dar boas risadas


POEMA DO CUME

No alto daquele cume

Plantei uma roseira

O vento no cume bate

A rosa no cume cheira.

Quando cai a chuva fina

Salpicos no cume caem

Formigas no cume entram

Abelhas do cume saem.

Quanto cai a chuva grossa

A água do cume desce

O barro do cume escorre

O mato no cume cresce.

Quando cessa a chuva

No cume volta a alegria

Pois torna a brilhar de novo

O sol que no cume ardia!"

ÓTIMO TEXTO PARA TRABALHAR CACOFONIA.