sexta-feira, 9 de março de 2012

Gilvan Lemos - TEXTOS ADAPTADOS POR ADRIANA KELLY PARA VIVÊNCIA DO PROJETO “UM POUCO DE LITERATURA NA VIDA, MUITA VIDA NA LITERATURA”

O menino da marmita

Midim, era assim que o chamavam.Era um menino esperto, carinhoso e muito trabalhador.Tinha o costume da falar sozinho e de inventar palavras.
A mãe de Midim de vez em quando o pegava falando sozinho e perguntava:
_ Com quem está conversando aí, leseira?
E Midim respondia:
_ Tou só tirando resto de comida dos dentes com a língua.
A mãe então ria e deixava pra lá.
A família de Midim era pobre, a mãe era dona de casa e o pai balconista, então era necessário que Midim trabalhasse e o seu ofício era o seguinte: entregar quatro marmitas todos os dias, ao meio dia. Quem se encarregava de prepará-las era a mãe dele.
A primeira marmita era entregue a uma mulher bem nova, casada com um funcionário público, a segunda, a um velho que morava sozinho, a terceira, a um estudante e a última a uma costureira, nem velha nem nova, que lhe dava doces e até retalhos que a mãe de Midim aproveitava para fazer roupas para a família, assim economizava.
Ao retornar da obrigação Midim chegava em casa na hora do almoço, pois o caminho que fazia para entregar as marmitas não era muito longo. Almoçavam juntos: o pai a mãe e ele. Logo depois o pai saia para o trabalho e ele para a escola, enquanto a mãe cuidava dos afazeres domésticos.
O pai de Midim não era de muita conversa e detestava quando acontecia da esposa ou do filho visitá-lo no trabalho; dizia que se sentia humilhado pelo cargo de balconista, pois era trabalho pra gente mais nova e não para um senhor como ele.Na verdade não era vergonha que o pai de Midim sentia e sim culpa por não ter estudado como seus irmãos, uma vez que um era médico e o outro juiz de direito, talvez sentisse até uma pontinha de inveja e sempre dizia a Midim:
_ Estude, meu filho, não faça como seu pai.
Ao ouvir o pai falar assim Midim sentia vontade de dizer que o adorava, mas não tinha coragem. O pai era tão severo e de tão poucas conversas que ele preferia só pensar.Às vezes sentia vontade de tê-lo mais perto, de sair com ele para passear ou de ir à escola em companhia dele, afinal a escola ficava no caminho do trabalho. No entanto, segundo o pai de Midim, isso era coisa de mãe, o pai era para outras coisas.
E assim era a vida de Midim. No seu trajeto diário tinha bastante tempo pra sonhar e era bom. Pensava e dizia para si mesmo que jamais iria humilhar ninguém, jamais iria ser ruim para os pais. Vou ser delicado com as pessoas, vou sempre dizer obrigado e sorrir para todos que eu entrego as marmitas. Lá ia ele, a penca de marmita na mão, balançando-as de leve, passando pela igrejinha, pela venda de seu Miguel, pela antiga fábrica de cerveja abandonada e por uma praça onde antes tinha um tobogã e que os moleques foram desmontando até ficar só ferros retorcidos e enferrujados.
Na praça onde havia os restos do tobogã vivia Rambo, um homem mal encarado que perambulava pelos arredores pedindo e roubando. Assaltava velhos, mulheres desamparadas. Quando era denunciado e a polícia ia pronta para prendê-lo, ele sumia.
Midim tinha medo de Rambo, pois muitas vezes ele ao avistar a aproximação do menino, chamava-o com a mão e Midim apressava o passo e quase correndo chegava ao lugar onde entregava a primeira marmita.
Numa segunda-feira, Midim saiu para a entrega das marmitas à hora de costume, com a disposição de costume, enquanto a mãe terminava o almoço deles próprios, como de costume.Mas nesse dia Midim chegou em casa mais cedo, entrou feito bala, sem nada dizer, foi para o banheiro, a mãe a gritar desesperada. Havia marcas de sangue em suas calças.
_ Meu filho, meu filho, que houve?
Midim trancado no banheiro, a mãe a bater na porta. Só se ouvia o barulho da água escorrendo do chuveiro. Saiu enrolado na toalha.
_ Aconteceu um desastre mamãe!
_ Desastre, desastre! Como?
E Midim responde:
_ A caminhonete subiu na calçada, me jogou na parede, passou por cima das marmitas, estragou tudo, amassou tudo.
A mãe preocupada quis levar Midim ao médico para ser examinado, mas ele gritava histérico, dizendo que não queria e nem era preciso exame nenhum.
Na terça-feira Midim ainda não estava bem, e nem na quarta e nem na quinta e isso deixou os pais preocupados. Ele nunca foi assim, dizia a mãe chorando, deve ter levado uma pancada na cabeça. O pai então resolve chamar o irmão médico para examinar Midim.
Ao ver seu tio o menino deixou que o examinasse, nisso o médico pede aos pais que saiam do quarto, pois precisa conversar a sós com Midim.
Durante a conversa Midim diz a verdade ao médico que em seguida conta tudo para o pai do menino.
Pouco tempo depois o pai entra no quarto do filho. Lacrimejava, garganta apertada, afagando Midim.
_ Foi Rambo, papai.
_ Quem é Rambo?
Midim lhe disse.Tudo. De vez em quando se interrompia, soluçando, mas disse tudo, tudinho.Que Rambo o havia pegado a força, tirado a sua roupa e abusado dele.
Tomado pela raiva, o pai pega Midim pelo braço e sai à procura de Rambo para acertar as contas. Isso não ia ficar assim!
Ao chegarem na praça avistaram muitas pessoas ao redor de um corpo. Era o corpo de Rambo. Tinha sido assassinado de madrugada por uns caras numas motos, foram logo atirando. Rambo não teve tempo nem de gritar.Deve ter sido encomendado por alguém daqui do bairro. Ninguém agüentava mais. O sujeito era ruim de verdade.
O pai então pegou Midim pelo braço e retirou-se sem nem mesmo querer ver o corpo fuzilado de Rambo, era um infeliz, não merecia nem uma última olhada.
Midim estava aliviado, mas quis saber:
_ Pai, eu vou virar bicha?
O pai com um riso nervoso reponde:
- Que história é essa? Foi um acidente, acabou, esqueça.
Dias depois Midim retornou a suas obrigações e nenhum dos fregueses ficou sabendo do acontecido, porém sempre que passava pela praça lembrava de Rambo e dizia para si mesmo que aquele homem era um infeliz.

LEMOS, Gilvan.O menino da marmita-Largo da Alegria e outros contos; Editora Bagaço, 1996.



Tarde de domingo


Júnior estava aborrecido. No sábado tinha chovido de manhã, por isso não pôde ir à praia, de tarde, pra não deixar ele brincar com os coleguinhas e à noite, não tinha nada mesmo para fazer, ficou vendo televisão.
No domingo amanheceu chovendo, mas chuva fina.Júnior ficou pensando se ia parar mesmo de chover ou Deus ia aprontar com ele de novo, pra quando chegar a hora do jogo mandar chuva forte, dessas que não dá pra sair de casa.Não duvidava nada, era um menino marcado. Deus fazia chover só para prejudicá-lo.
Mas, vamos ver em que vai dar não é Deus? Será que hoje eu vou ao estádio ver o Santa Cruz jogar e ganhar?
As horas estavam passando e Júnior começou a duvidar e nada do pai chegar da rua. Já sei, dizia-se intimamente, papai não vem, perco o jogo e fim.
A mãe vendo a agonia do menino tentava acalmar:
_ Seu pai chega já. Ele não prometeu?
Realmente o pai veio, executando passos do frevo, estava bêbado.
Júnior então saiu de perto do pai, quando ele o chamou não atendeu. Estava com raiva do pai, muita raiva mesmo.
O pai então se aproximou e disse:
_ No próximo domingo nós vamos, será um jogo melhor, pois será final de campeonato.
Júnior sem olhar para o pai responde:
_ E se o Santa Cruz ganhar hoje.
E o pai:
_ E você acha que ele vai perder? Se é assim nem vale a pena ir. Ou você gosta de ver seu time perder?
Júnior não respondeu, estava convencido de que não valia a pena discutir com o pai.Ao retirar-se ainda ouviu o pai dizer pra mãe:
_Talvez Carlos, o vizinho possa levá-lo com os filhos dele.
Júnior grita:
- Já foram.
- E o pai ainda diz:
- Então telefone para o seu irmão.
Dessa vez Júnior falou alto:
_ Desde ontem foi para Itamaracá, não lembra? Ele até convidou você, mas você prefere beber com os seus amigos!
Sem alternativa, o pai diz:
-Então vá sozinho!
Então a mãe que estava calada até então disse:
_ Está louco! Uma criança de onze anos!
O pai diz que na idade dele já andava sozinho para todos os lugares e a mãe zangada lembra que hoje em dia é perigoso até para os adultos, há muita violência.
Júnior depois de um tempo volta a sala e vê o pai dormindo no colo da mãe.Então é assim pensou.Problema resolvido, o pai livre do compromisso e a mãe desobrigada de interceder em seu favor. Por que tudo tem que ser assim, contra ele?
Júnior retira-se, vai para o quintal. Não chove mais. De maneira alguma vai chover e diz em pensamento: agora pode chover, não vou ao jogo mesmo!
Ele permanece no quintal resmungando:
_ Todo mundo vai ao jogo. Só eu sem pai nem mãe, sem ninguém, não tenho direito a ir.
Ficou então olhando as formigas, ocupadinhas, trabalhadeiras. E se ele fosse uma formiga. Não se preocuparia com besteiras, não sofreria.
Passado algum tempo a mãe chama-o:
_ Júnior, Júnior, onde você está?
Ele foi ao encontro da mãe. O Pai estava por trás dela e disse:
_ Taí, não foi ao jogo, nem morreu.
Ele já havia esquecido do jogo, mas não daria esse gostinho de dizer isso ao pai.
A mãe o chamou para lanchar e ele, embora morrendo de vontade disse:
_ Não quero porcaria de lanche! Vocês criam filhos como se fossem cachorros, não lhe dão nem o direito de assistir ao time dele jogar.
O pai deu-lhe então a notícia:
Foi bom você não ter ido, o Santa perdeu.
Júnior saiu correndo, dizendo ser um infeliz, que não devia nem ter nascido.
A mãe, depois de algum tempo, vai atrás do filho e o encontra distraído, brincando com as formigas.
A mãe então pergunta:
_ Você queria ser uma formiga, filho?
E Júnior responde sorrindo.
_ Acho que sim.

LEMOS, Gilvan.Tarde de domingo-Largo da Alegria e outros contos; Editora Bagaço, 1996.


OFICINA Educação Infantil e 1º e 2º ano do Ensino Fundamental de Nove Anos

Ler: Criar e recriar

Objetivos:
• Reconhecer escolhas de linguagens e efeitos de sentido
• Destacar o papel da sonoridade na criação de efeitos de sentido
• Refletir sobre as intenções dos autores e suas escolhas;
• Vivenciar o processo de criação por meio de jogos de palavras

ETAPAS
Por entre as palavras circulamos...
• Expor um cartaz com a poesia O pato; ( LETRA BASTÃO)
Atenção: antes de expor a poesia, explorar apenas o título e promover uma conversa com os seguintes questionamentos:
- O texto que vamos ler é sobre o pato, o que será que está escrito? Explore até que todos se pronunciem.
- Que nome será que tem o pato dessa história?
- O pato é um animal de estimação?
- que tipo de animal é o pato? Ele é útil? Por quê?
• Após os questionamentos expor a poesia e ler com entonação e ritmo para os alunos, sempre apontando.

O pato
Vinícius de Morais

Lá vem o Pato
Pata aqui, pata acolá
Lá vem o Pato
Para ver o que é que há.

O Pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco
Pulou do poleiro
No pé do cavalo
Levou um coice
Criou um galo
Comeu um pedaço
De jenipapo
Ficou engasgado
Com dor no papo
Caiu no poço
Quebrou a tigela
Tantas fez o moço
Que foi pra panela.

• Após a leitura da poesia perguntar se eles já a conheciam e propor a interpretação:
- O pato da poesia é: feio, quieto, curioso, bagunceiro. (é curioso e bagunceiro)
- Após as respostas dadas confirme que o pato da poesia é curioso e bagunceiro e peça para os alunos identificarem o verso do texto que justifica essas respostas:
RESPOSTAS: é curioso, pois o verso “Para ver o que é que há” confirma que o pato foi bisbilhotar.
É bagunceiro, pois o verso “Quebrou a tigela” confirma que o pato causou estrago.
- O pato tem um comportamento violento, que versos confirmam essa afirmação?
RESPOSTAS:
Surrou a galinha
Bateu no marreco
- O que quer dizer a expressão foi pra panela?
- O que vocês acham do final trágico do pato da poesia? Ele mereceu?
- Vocês conhecem alguém que tenha um comportamento semelhante a do pato? O que fazer para mudar um comportamento de alguém agressivo e bagunceiro?

2ª ETAPA
• Entregar para os alunos uma folha de ofício e fazer uma dobradura de modo que a folha fique com quatro vincos.

• Pedir que os alunos escolham, na poesia dois pares de palavras que rimem:

• Cada aluno deverá cortar a folha nos vincos junta-las aos dos colegas em um monte, no chão.

• Embaralhar as cartas para jogar
• Dividir os alunos em duplas;
• Cada dupla deverá retirar quatro cartas do monte
• O professor passará em cada dupla entregando uma folha de ofício para o aluno criar uma historinha e representá-la por meio de desenhos.
• Quando todos terminarem os alunos serão colocados em círculo e contarão a historinha produzida.


3ª ETAPA

• O professor lerá em voz alta e com dramatização vocal o clássico da literatura infantil O patinho Feio.

O PATINHO FEIO
Era uma vez uma mamãe pata que tinha escolhido um lugar ideal para fazer seu ninho: um cantinho bem protegido, no meio da folhagem, perto de um rio.Após a longa espera, os ovos se abriram um após o outro, e das cascas rompidas surgiram, engraçadinhos e miúdos, os patinhos amarelos que, imediatamente, saltaram do ninho,porém um dos ovos não abri, era um ovo grande, e a pata pensou que não o chocara o suficiente.
Impaciente, deu umas bicadas no ovão e ele começou a se romper.
No entanto, em vez de um patinho amarelinho saiu uma ave cinzenta e desajeitada. Nem parecia um patinho.
Para ter certeza de que o recém-nascido era um patinho, e não outra ave, a mãe-pata foi com ele até o rio e o obrigou a mergulhar junto com os outros.
Quando viu que ele nadava com naturalidade e satisfação, suspirou aliviada. Era só um patinho muito, muito feio
Com o tempo a mamãe pata,começou a sentir do patinho feio vergonha e não queria tê-lo em sua companhia.
O pobre patinho crescia só, malcuidado e desprezado. Sofria. As galinhas o bicavam a todo instante, os perus o perseguiam com ar ameaçador e todos os bichos só pensavam em enxotá-lo.
Um dia, desesperado, o patinho feio fugiu. Queria ficar longe de todos que o perseguiam.
Caminhou, caminhou ,caminhou, procurando um lugar onde não sofresse .Sozinho, triste e esfomeado, o patinho pensava, preocupado, no inverno que se aproximava.
Num final de tarde, viu surgir entre os arbustos um bando de grandes e lindíssimas aves. Tinham as plumas alvas, as asas grandes e um longo pescoço, delicado e sinuoso: eram cisnes,lançando estranhos sons que bateram as asas e levantaram vôo, bem alto.
O patinho ficou encantado, olhando a revoada, até que ela desaparecesse no horizonte. Sentiu uma grande tristeza, como se tivesse perdido amigos muito queridos.
Com o coração apertado, lançou-se na lagoa e nadou durante longo tempo. Não conseguia tirar o pensamento daquelas maravilhosas criaturas, graciosas e elegantes.
Foi se sentindo mais feio, mais sozinho e mais infeliz do que nunca.
Naquele ano, o inverno chegou cedo e foi muito rigoroso.
O patinho feio precisava nadar ininterruptamente, para que a água não congelasse em volta de seu corpo, criando uma armadilha mortal. Mas era uma luta contínua e sem esperança.
Um dia, exausto, permaneceu imóvel por tempo suficiente para ficar com as patas presas no gelo.
— Agora morrerei — pensou. — Assim, terá fim todo meu sofrimento.
Fechou os olhos, e o último pensamento que teve antes de cair num sono parecido com a morte foi para as grandes aves brancas.
Na manhã seguinte, bem cedo, um camponês que passava por aqueles lados viu o pobre patinho, já meio morto de frio.
Quebrou o gelo com um pedaço de pau, libertou o pobrezinho e levou-o para sua casa.
Lá o patinho foi alimentado e aquecido, recuperando um pouco de suas forças. Logo que deu sinais de vida, os filhos do camponês se animaram:
— Vamos fazê-lo voar!
— Vamos escondê-lo em algum lugar!
E seguravam o patinho, apertavam-no, esfregavam-no. Os meninos não tinham más intenções; mas o patinho, acostumado a ser maltratado, atormentado e ofendido, se assustou e tentou fugir. Fuga atrapalhada!
Caiu de cabeça num balde cheio de leite e, esperneando para sair, derrubou tudo. A mulher do camponês começou a gritar, e o pobre patinho se assustou ainda mais.
Acabou se enfiando no balde da manteiga, engordurando-se até os olhos e, finalmente se enfiou num saco de farinha, levantando uma poeira sem fim. br> A cozinha parecia um campo de batalha. Fora de si, a mulher do camponês pegara a vassoura e procurava golpear o patinho. As crianças corriam atrás do coitadinho, divertindo-se muito.
Meio cego pela farinha, molhado de leite e engordurado de manteiga, esbarrando aqui e ali, o pobrezinho por sorte conseguiu afinal encontrar a porta e fugir, escapando da curiosidade das crianças e da fúria da mulher.
Ora esvoaçando, ora se arrastando na neve, ele se afastou da casa do camponês e somente parou quando lhe faltaram as forças.
Nos meses seguintes, o patinho viveu num lago, se abrigando do gelo onde encontrava relva seca.
Finalmente, a primavera derrotou o inverno. Lá no alto, voavam muitas aves. Um dia, observando-as, o patinho sentiu um inexplicável e incontrolável desejo de voar.
Abriu as asas, que tinham ficado grandes e robustas, e pairou no ar. Voou. Voou. Voou longamente, até que avistou um imenso jardim repleto de flores e de árvores; do meio das árvores saíram três aves brancas.
O patinho reconheceu as lindas aves que já vira antes, e se sentiu invadir por uma emoção estranha, como se fosse um grande amor por elas.
— Quero me aproximar dessas esplêndidas criaturas — murmurou. — Talvez me humilhem e me matem a bicadas, mas não importa. É melhor morrer perto delas do que continuar vivendo atormentado por todos.
Com um leve toque das asas, abaixou-se até o pequeno lago e pousou tranqüilamente na água.
— Podem matar-me, se quiserem — disse, resignado, o infeliz.
E abaixou a cabeça, aguardando a morte. Ao fazer isso, viu a própria imagem refletida na água, e seu coração entristecido deu um pulo. O que via não era a criatura desengonçada, cinzenta e sem graça de outrora. Enxergava as penas brancas, as grandes asas e um pescoço longo e sinuoso.
Ele era um cisne! Um cisne, como as aves que tanto admirava.
— Bem-vindo entre nós! — disseram-lhe os três cisnes, curvando os pescoços, em sinal de saudação.
Aquele que num tempo distante tinha sido um patinho feio, humilhado, desprezado e atormentado se sentia agora tão feliz que se perguntava se não era um sonho!
Mas, não! Não estava sonhando. Nadava em companhia de outros, com o coração cheio de felicidade.
Mais tarde, chegaram ao jardim três meninos, para dar comida aos cisnes.
O menorzinho disse, surpreso:
— Tem um cisne novo! E é o mais belo de todos! E correu para chamar os pais.
— É mesmo uma esplêndida criatura! — disseram os pais.
E jogaram pedacinhos de biscoito e de bolo. Tímido diante de tantos elogios, o cisne escondeu a cabeça embaixo da asa.
Talvez um outro, em seu lugar, tivesse ficado envaidecido. Mas não ele. Seu coração era muito bom, e ele sofrera muito, antes de alcançar a sonhada felicidade.
Andersen

• Expor, depois da leitura, o texto ,RESUMIDO, num cartaz ao lado da poesia O pato.( ilustrar o cartaz)

- Quem é o personagem principal nos dois textos.
- O comportamento dos patos é o mesmo nos dois textos?
- Qual história vocês gostaram mais?
- O patinho feio traz uma grande lição para pessoas de várias idades. Que lição é essa?
• Após a atividade de exploração oral, o professor deverá informar aos alunos sobre o tipo de textos que foram apresentados.
Ex. Os dois são narrativos, pois apresentam as seguintes características:
a) personagem
b) Cenário (lugar onde se passa a história)
c) Conflito (enredo)
d) Desfecho dos personagens
• O texto 1 pela sua estrutura é uma poesia e o texto 2 um conto.

4ª ETAPA

• Ler para os alunos o conto Novo lar de Gilvan Lemos;( conto do livro Largo da Alegria e outros contos; Editora Bagaço, 1996).
• Numa conversa informal, comparar a história do patinho feio e Birita, personagem principal do conto de Gilvan Lemos; fazendo sempre questionamentos.
- o fim de cada personagem é igual?
- Qual história é mais real? Por quê?
- vocês conhecem ou já ouviram falar de alguém que vive do mesmo modo que Birita?
- O que pode ser feito para mudar a história de pessoas como Birita?
• Encerrar a oficina dizendo quem é Gilvan Lemos ( ler a biografia )



OFICINA DE LÍNGUA PORTUGUESA
2ª a 4ª Série do Ensino Fundamental e 3º Ano do Ensino Fundamental de Nove Anos

LER: Leituras compartilhadas & Leitores em ação

Objetivos
 Estimular e vivenciar a leitura de gêneros textuais diferentes: poesia e conto.
 Comparar os textos quanto a forma e conteúdo;
 Favorecer a mediação do professor na prática da leitura.

1ª ETAPA

Poesia é... brincar com as palavras
como se brinca com bola,
papagaio, pião.
Só que bola, papagaio, pião
de tanto brincar se gastam.
As palavras não:
Quanto mais se brinca com elas,
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?
José Paulo Paes


1.O professor expõe, no quadro, a palavra BOLA numa folha de papel ofício com ilustração. Ex.:

2.Após expor a folha com a palavra e o desenho, estimular os alunos a falarem sobre a bola, quais as brincadeiras e os esportes que precisam da bola para serem realizados.

3. Esgotadas as falas, expor o texto numa cartolina e com letra bastão; fazer a leitura da poesia, sempre apontando.
4.Brincando com as palavras.
 Monte um boliche com garrafa peti e em cada garrafa cole plaquinhas com as seguintes palavras:

 Organize os alunos em fila e entregue uma bola de meia, previamente confeccionada pelo professor, para que um aluno por vez jogue e derrube as garrafas, depois de derrubadas as garrafas o aluno tentará ler as palavras.
 Quando todos terminarem de jogar, o professor irá realizar fazer o seguinte questionamento:
a) Que palavras representam nomes de brincadeiras?
b) Que palavra pode ser um nome de uma brincadeira e de um animal?
c) Quais as palavras que representam esportes?
d) O que estes esportes têm em comum?
e) Quais os times de futebol que vocês conhecem?
f) Os times mais famosos de Pernambuco são: Náutico, Sport,Santa Cruz.
g) Você conhece o time de futebol de São Bento do Una?

5.Encerrados os questionamentos propor um ditado com nomes de brincadeiras, esportes, times de futebol, nomes de jogadores.

ATENÇÃO!
Para as séries que os alunos ainda não lêem, a atividade escrita pode ser por meio de desenhos, de modo que a escrita seja incentivada,o aluno escreverá do jeito que “sabe” (escrita não-convencional) e o professor mostrará a palavra escrita convencionalmente, num acompanhamento individual.

A correção do ditado para os alunos que sabem escrever será feita através da escrita das palavras ditadas no quadro.

2ª ETAPA

6. Trabalhando com o gênero conto.

O professor fará a leitura do conto Tarde de domingo de Gilvan Lemos.

Após a leitura perguntar:

a) O que há em comum entre a poesia exposta no cartaz e o conto lido?
b) Por qual time de futebol o personagem Júnior torce?
c) Com quem júnior fala no inicio do conto?
d) Por quem Júnior esperava naquele domingo para levá-lo ao Estádio de futebol?
e) Júnior conseguiu ir ao jogo? Por quê?
f) O que você achou da atitude do pai de Júnior?
g) No final do conto Júnior diz quere ser um animal, que animal é esse?
h) Tem algum animal que você gosta ou admira?
i) Que animal você gostaria de ser.

7. Encerrada a atividade oral acima pedir que os alunos produzam um texto.
SUGESTÃO:
Reconto através de desenhos em quadrinhos para alunos que ainda não escrevem. Entregar uma folha de ofício e pedir que os alunos dobrem para que depois de desdobrada permaneçam os vincos e então a história imaginada seja desenhada.
Ex.:

Para os alunos que escrevem propor a produção de desenhos e frases com seqüência lógica, também numa folha de ofício, com vincos.
Ex.:
Começo

Meio

Fim


7. Explorar temas como relacionamento entre pais e filhos.
8. Encerra a oficina apresentando o escritor do conto Tarde de domingo- Gilvan Lemos. ( ler a biografia)

OFICINA DE LÍNGUA PORTUGUESA 5ª A 8ª SÉRIE
Ler: Compreender imagens

1. Um pintor que escreve versos




















Candido Portinari, Meninos Soltando Pipas, 1952,
Pintura a guache/papel, 14 x 15,5 cm




(...)
Não tínhamos nenhum brinquedo
Comprado. Fabricamos
Nossos papagaios, piões,
Diabolô.
A noite de mãos livres e
pés ligeiros era: pique, barra-
manteiga, cruzado.
Certas noites de céu estrelado
E lua, ficávamos deitados na
Grama da igreja de olhos presos
Por fios luminosos vindos do céu
era jogo de
Encantamento. No silêncio podíamos
Perceber o menor ruído
Hora do deslocamento dos
Pequenos lumes... Onde andam
Aqueles meninos, e aquele
Céu luminoso e de festa?
Os medos desapareciam
Sem nada dizer nos recolhíamos
Tranquilos...

(,,,)

Poucos são aqueles a quem falo
E muitos me procuram
Por nada. Se tivesse
Continuado a soltar papagaio

Seria livre como as andorinhas
Não entenderia os homens
Teria pena deles e de mim
Saberia a vida do vento

E a época dos vaga-lumes
Com as suas lanterninhas.
Saberia as idades
Das nuvens e os dias de arco-íris.
Candido Portinari

Objetivos:
• Compreender que,cada vez mais, ler plenamente supõe domínio e interação de linguagens;
• Estabelecer relação entre a ampliação do universo cultural, a leitura mais proficiente e o processo de criação.

ETAPAS

1º MOMENTO
1. Formar 6 grupos

2. Entregar a folha com as imagens dos quadros de Portinari para cada grupo

3. Pedir que os alunos observem os quadros apontando detalhes:
a) as cores que predominam
b) o que as imagens representam
c) que tipo de movimento as personagens demonstram
d)a paisagem

4. pedir aos alunos que leiam os poemas escritos por Portinari e comparem os textos com os quadros, observando o que, na imagem, pode representar o que os poemas expressam: a brincadeira, a leveza conferida às crianças, a atmosfera de recordação...

5. Pedir que os alunos leiam em voz alta as passagens dos textos que melhor representam o que está exposto no quadro.

6. Estimular uma conversa sobre a versatilidade do artista, sua sensibilidade para perceber e registrar o cotidiano, tanto por meio da pintura, quanto por meio da palavra.

7. Pedir que cada grupo discuta e comente qual das representações- verbal ou visual – impressionou mais.
8. Em seguida um representante de cada grupo apresentará para os demais grupos as conclusões a que o grupo chegou.
Obs. As respostas devem ser registradas numa folha de ofício e coladas na lousa.

2º MOMENTO

Um escritor que retrata o cotidiano

1. Entregar aos grupos o conto (resumo), O menino da marmita, de Gilvan Lemos.

2. Após a leitura em grupo, promover a leitura em voz alta de maneira fragmentada (cada grupo fará a leitura de uma parte do texto).

3. Em seguida o professor direcionará os questionamentos para cada grupo (UMA PERGUNTA POR GRUPO) sobre o conto lido:
a) Em que se assemelha o conto O menino da marmita, de Gilvan Lemos, com os quadros e os poemas de Candido Portinari?
b) Questionamentos sobre Mindim, personagem principal do conto:
- características psicológicas
- classe social

c) Paralelo entre ficção e realidade
- temática principal
- questão social abordada

c) Gilvan Lemos
- Quem é?
- Comparar a estrutura dos textos de Portinari e de Gilvan Lemos e biografia do mesmo
( classificação quanto a tipologia e gênero)


5. Encerramento com uma Mensagem. (escolha do Professor)