quinta-feira, 8 de março de 2012

Quem mandou não estudar...

Essa frase é dita e repetida todos os anos pelos professores aos alunos que ao término do ano não conseguiram progressão plena, até aí tudo bem. O problema é que a frase “Quem manda não estudar”, virou um bordão na sala dos professores que, diga-se de passagem, tornou-se um muro de lamentações. Quando um professor se mostra insatisfeito com a profissão ele mesmo declama “Quem mandou não estudar” e se não diz, ouve de um colega também insatisfeito com o ofício. Mas espera aí, então quer dizer que para ser professor não precisa estudar? Durante os quatro anos numa faculdade, sem contar os três anos de Magistério ou quatro de Normal Médio e ainda um ano de especialização, sem contar com Mestrado e Doutorado, não necessitou de leituras, de pesquisas, de reflexão, bastou apenas frequentar a instituição de ensino e estava garantido o diploma?
É no mínimo absurdo pensar assim, e mais, é deprimente essa quase confissão, pois realça e alicerça a ideia de que só estuda quem faz Medicina, Direito, ou seja lá qual área que dá status. Esquece-se, porém que os profissionais de todas as áreas passaram pelas mãos de um professor, ou melhor, de um professor que estudou. Se hoje vivemos num país onde sobram empregos e faltam profissionais capacitados é porque nas salas de aula de todo país estão professores que não estudaram, e se não o fizeram como irão cobrar que seus alunos estudem.
Estudar faz parte da vida de qualquer profissional, mesmo quando se conclui todas as etapas acadêmicas. Não dá para entender como o professor entra numa sala de aula sem fazer uma leitura do conteúdo a ser ensinado, sem atualizar o conhecimento, sem estudar! E isso vale para qualquer profissional. O médico que não estuda apenas receita, sem examinar, o engenheiro que não estuda orienta seus mestres de obras numa construção sem um bom alicerce, o advogado que não estuda ganha cliente na mesma proporção que perde causas.
É importante refletir que em toda área de atuação existem missões a cumprir: o médico cuida da vida, o engenheiro constrói paredes para que as pessoas vivam melhor, o advogado garante o cumprimento dos direitos para o bem viver e o professor que estudou e estuda promove a vida plena. Quando essa missão de promover a vida plena for entendida, certamente diminuirá a quantidade de pessoas nos ambulatórios, nos escombros de um prédio mal projetado e nos presídios, porque os profissionais que sentaram nas carteiras escolares tiveram professores que além dos conteúdos programáticos deram sentido as suas aulas, entenderam os mais diferentes comportamentos, respeitaram e aperfeiçoaram aptidões, pois assim como médicos, professores também estudaram o comportamento humano durante as aulas de Psicologia e por isso foram vendedores de sonho.
Embora não seja tarefa fácil, com certeza, é muito gratificante, pois dar a própria contribuição na formação intelectual da pessoa e ser sempre lembrado durante toda a vida pelas marcas positivas que foram impressas no coração de cada estudante, faz do magistério não apenas uma profissão, mas uma verdadeira missão.
Se não é tarefa fácil educar, também não é fácil não ser reconhecido como deveria pelos governantes e pela sociedade como um todo, resquícios da história política do nosso país, no entanto é sempre bom voltar no tempo e fazer uma retrospectiva na história da educação para entender os avanços na área e deixar então de reclamar e menosprezar a própria profissão.
A "coitadização" do professor é um discurso infantilizador de alguns,infelizmente próprios professores, que tratam a si mesmos e ao colegas de profissaçõ como um pobre coitado, uma vítima - objeto, e não sujeito, de sua ação. Esse discurso diz respeito à desvalorização social do professor. Diz-se que a carreira de professor é desmerecida pela sociedade, e que a baixa auto-estima resultante dessa estigmatização está entre as causas do insucesso docente e do fracasso da nossa educação. Definitivamente não acredito que a profissão de professor seja vítima de preconceito. Pelo contrário, aliás. Onde quer que eu vá, vejo manifestações de apreço e encorajamento aos professores.
Há uma série de prêmios, regionais e nacionais, destinados à categoria. Por outro lado jornais, revistas e programas de TV se referem aos professores como verdadeiros heróis. Quando acontece algum desrespeito a professores logo vira destaque na mídia e é vista com indignação e reprovação. É certo que a sociedade brasileira entende o papel fundamental do professor na formação de seus filhos,basta então que o próprio professor entenda e acredite na importância do seu papel na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.Basta que o professor mude a prática e rejeite a frase que intitula este desabafo.
Adriana Kelly